Como o legado de Mandela pode inspirar um futuro melhor

O mundo inteiro celebrou o centenário de nascimento de Nelson Mandela. Lisboa não foi exceção. Conheça os pontos altos desta celebração.
Artigo atualizado a 19-07-2018

Mandela é um exemplo para construir um mundo melhor

A abertura da conferência ficou a cargo de António Tomás Correia, presidente da Associação Mutualista Montepio e da Fundação Montepio, que realçou o privilégio de receber “personalidades que são intervenientes ativos no diálogo e na construção de pontes. Que procuram unir homens e mulheres para que, a partir dessa união, se possa construir sociedades mais justas, onde a esperança e a confiança no futuro estejam sempre presentes”.

António Tomás Correia mostrou-se honrado por participar no evento que celebra o centenário do nascimento de Nelson Mandela, figura que  considerou “incontornável na vida mundial e um orgulho para todos os democratas que combatem pela igualdade entre os homens”. “O trabalho que ele fez depois de um longo período de vida ativa, e tendo passado 27 anos na prisão, é um exemplo e uma inspiração para construir um mundo melhor e sobretudo para lutarmos contra todas as desigualdades.”

Rui Marques, diretor do Instituto P. António Vieira (IPAV) e outro dos oradores presentes, salientou a importância deste evento num mundo marcado pela fratura, pelo conflito, pela ausência de esperança, onde é fundamental sensibilizar e mobilizar as vontades dos construtores de pontes. “Homens e mulheres que são capazes de dar o melhor de si, para ligar margens, para aproximar o que está separado, para encontrar coesão social, para desenvolver a paz e para criar um futuro diferente”, reforçou.

Madiba não trabalhou apenas com o poder do cérebro

A fechar a sessão de abertura da conferência, Martin Kalungu-Banda fez uma afirmação importante: “não é possível construir pontes apenas com base no poder da inteligência”. O consultor da Iniciativa de Governação de África e autor de do best-seller Liderar como Mandela recordou Madiba como alguém que “não trabalhou apenas com o poder do cérebro” e que, muitas vezes, combateu a lógica. Para Martin Kalungu-Banda esse é, aliás, um dos grandes erros da humanidade – “dar demasiada importância à inteligência e subestimar o poder da inteligência emocional”.

“Precisamos de líderes capazes de alternar entre estas três faculdades de pensamento: mente aberta, coração aberto e boa vontade”, rematou o consultor para demonstrar a importância da inteligência emocional utilizada por Nelson Mandela em momentos em que se esperava “uma reação lógica”.

Seguindo a mesma linha de pensamento, também Willie Esterhuyse, professor na Stellenbosh University e uma figura de relevo na África do Sul, recordou uma das capacidades de Nelson Mandela, a sua “notável imaginação moral inclusiva”.

“A razão não é uma ciência, não é tudo, há outras coisas envolvidas”, afirma o professor. Para o sul africano, aliás, uma das grandes forças de Nelson Mandela foi a capacidade de “imaginar um mundo diferente”.

Construir pontes, dialogando

Sob o tema “Construir pontes para a reconciliação e paz – caminhos percorridos e lições aprendidas”, teve início o primeiro painel, composto por D. Ximenes Belo, Geofrey Corry e John Volmink,  com moderação do jornalista António Mateus.

Numa conversa marcada pela necessidade da construção de pontes e pela coragem necessária para o fazer, John Volmink, em jeito de analogia, chamou a atenção da audiência para o próprio território da África do Sul: “há muitas estradas, mas não há muitas pontes”.

Por sua vez, D. Ximenes Belo, Prémio Nobel da Paz, destacou a importância de figuras que se esforcem para construir pontes. E isso faz-se, diz, “através do diálogo e aproximando as pessoas”.  Uma opinião partilhada por Geoffrey Corry, que defendeu “a persistência” de líderes para continuar com os processos políticos, mesmo em situações pós-conflito, recordando as vítimas dos atentados do IRA no Reino Unido.

O tema “Construir pontes para a reconciliação e paz – os desafios de quem começa” debatido no segundo painel, focou-se nos países que estão em processos de reconciliação e contou com intervenção de P. Domingos e Osíris Ferreira, da Guiné-Bissau, e Julian Marin e Melissa Goméz Mesa, da Colômbia, com moderação de Ricardo Alexandre. E perante a questão “do que falamos quando falamos em reconciliação”, Melissa Goméz destacou a mudança de governo na Colômbia e o sentimento de dúvida que assombra todos os colombianos face ao novo panorama que se avizinha. Nesta luta, Melissa destaca a importância da esperança e da espiritualidade, esclarecendo que espiritualidade não é religião, mas sim a capacidade de entender os outros e reconhecermo-nos como seres humanos. Também Julian partilha desta opinião, reforçando a importância de a reconciliação ser “um projeto nacional”.

Uma posição também defendida por P. Domingos, que considera a construção de pontes “muito importante para a Guiné-Bissau”. “Apesar de tudo, queremos reconciliarmo-nos com a nossa história, não tendo medo do passado e construindo o presente”, reconhece. Mas para isso, afirma, é preciso que todos os guineenses partilhem da mesma vontade. “A partir do momento em que todos os guineenses concebam a paz para a vida humana, será mais fácil continuar este processo”.

Osíris Ferreira, juiz do Supremo Tribunal da Guiné-Bissau, destacou a importância do relatório “Em nome da Paz” para preparar o processo de reconciliação nacional. Um relatório que ouviu “toda a população” guineense e que agora apresenta soluções para o desenvolvimento e para a construção de pontes, refere o juiz.

Na construção desse caminho, refere Osíris, há um legado de Mandela que pode ajudar os guineenses: a dignidade. A Guiné “precisa erguer a bandeira da dignidade e dos direitos humanos” afirma.

Como não poderia deixar de ser, o encerramento ficou a cargo de John Carlin, jornalista e autor do livro Invictus – Playing with the Enemy, que anos mais tarde deu origem ao filme Invictus, realizado por Clint Eastwood.

“Conheça o seu inimigo”. Foi assim que começou, e assim se pode resumir, a intervenção de Carlin. O jornalista recordou vários episódios de Nelson Mandela, com quem teve o privilégio de passar vários momentos, sobretudo a persuasão da figura mais importante da condenação do apartheid.

Uma parceria de sucesso

A conferência serviu também para destacar, e reforçar, a parceria da Fundação Montepio com a Academia Ubuntu. “Sabemos que entre os valores da Academia Ubuntu e aquilo que é a base dos valores da Fundação Montepio há uma consonância muito grande”, afirmou António Tomás Correia. Salientando a comunhão de objetivos entre as duas entidades, o também presidente da Fundação Montepio anunciou o reforço da parceria com a assinatura do protocolo que manterá viva esta união. “Um aspeto muito importante nesta nossa relação com a Academia Ubuntu é a mobilização de jovens – os jovens de hoje serão os adultos e os líderes de amanhã. Ajudá-los a construir a sua personalidade, o seu caminho, a sua liderança, é muito aliciante”, concluiu.

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