Frota Solidária: Como uma carrinha pode melhorar a vida das pessoas?

No ano em que a Frota Solidária cumpre 11 anos de existência, contamos-lhe como é que uma carrinha adaptada pode fazer a diferença na vida de centenas de utentes e combater a desertificação e o isolamento.
Artigo atualizado a 31-05-2021

A desertificação e o envelhecimento da população são dois dos problemas sociais mais urgentes em Portugal. Para quem vive no interior, isolado e sem rede de apoio, uma simples ida a uma consulta de rotina no centro de saúde local pode tornar-se uma missão impossível. Sem meios de transporte ou a ajuda de familiares próximos, estas pessoas têm nas Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) um apoio fundamental para realizar ações básicas do seu dia a dia.

O Ei falou com três das instituições que, em 2019, foram contempladas com uma viatura adaptada oferecida pela Frota Solidária, para descobrir como é que estas carrinhas vão mudar as vidas dos seus utentes.

Combater o isolamento

O Centro de Dia da COOPfafe conta com 25 utentes que, diariamente, têm de ser transportados de sua casa para a instituição, regressando no final do dia. “A grande maioria dos utentes que frequentam o Centro de Dia vivem nas aldeias que fazem parte do concelho de Fafe”, explica Fernando Oliveira, presidente da direção da cooperativa.

Este serviço, porém, tinha até há pouco tempo os dias contados: a viatura que fazia o transporte “estava extremamente degradada e sem condições”. A carrinha oferecida pelo projeto Frota Solidária é, assim, fundamental para que os utentes, no final do dia, possam voltar para casa. “É incontestavelmente um modo de combate ao isolamento e desertificação dos locais mais afastados da cidade”, prossegue.

A Santa Casa da Misericórdia da Covilhã, outra das instituições que recebeu uma carrinha adaptada, não tinha, até à data, um transporte equipado para a deslocação de pessoas com mobilidade condicionada. “Este apoio resolve um grave problema identificado”, diz António Freire, provedor desta instituição.

A viatura ficará ao serviço da Residência Sénior, onde atualmente residem 105 idosos, e permitirá deslocações diárias dos moradores com mobilidade condicionada: a consultas e exames médicos e para atividades de animação sociocultural ao ar livre. Desta forma, será “mais fácil o acesso dos utentes a serviços e atividades, combatendo o isolamento pela via da inclusão. Com esta oferta reduziremos distâncias, formais e informais, e estamos a atuar na prevenção e na melhoria da qualidade de vida das pessoas”, prossegue o responsável da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.

Para a Cercimor, a carrinha oferecida pela Frota Solidária é uma ajuda para a abertura de mais um Centro de Atividades Ocupacionais (CAO) no concelho de Mora. “O concelho de Mora é uma zona geográfica muito isolada, com uma população envelhecida e muitas deficiências nos meios de transportes”, explica Ana Cristina Saloio, Presidente do Conselho de Administração da Cercimor.

Este CAO deverá abrir portas ainda em 2019. Até lá, os utentes da Cercimor que residem no concelho de Mora têm de ser deslocados para Montemor-o-Novo, para que “possam permanecer na sua zona geográfica de residência, de forma a promover a inclusão dos clientes no dia a dia da sua comunidade e possibilitando o seu desenvolvimento de competências pessoais e sociais”, remata. Este centro irá apoiar 10 pessoas com deficiência, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos.

Transporte é estratégico na economia social

Santa Casa da Misericórdia da Covilhã, Cercimor e COOPFafe estão todos os dias, no terreno, a prestar auxilio à população mais carenciada, em substituição do Estado. E se, para uma parte dos portugueses, os efeitos da crise económica já estão ultrapassados, para outra franja da população estas carências continuam a deixar as suas marcas. “As situações de carência material, isolamento social e educação parental aumentaram substancialmente nos tempos mais recentes”, explica Fernando Jorge Rodrigues Oliveira, presidente da Direção da COOPfafe.

Apesar disso, faltam muitas vezes os meios necessários para as instituições chegarem a todos. O transporte torna-se um elemento estratégico para o desenvolvimento da economia social, sem o qual “o panorama de agravamento social nestas matérias seria mais gravoso”, prossegue o responsável da CoopFafe. Um dos maiores problemas com que as instituições se confrontam diariamente é falta de “disponibilidade financeira para adquirir este tipo de viaturas, tão necessárias”, diz António Freire, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Covilhã.

O projeto Frota Solidária torna-se essencial para que estas instituições cumpram o seu objetivo de solidariedade, mas também permite “implementar novas respostas mais eficazes para novos e velhos problemas sociais, assim como melhorar a eficiência dos recursos disponíveis”, sublinha Ana Cristina Saloio, Presidente do Conselho de Administração da Cercimor.

Até à data, a Frota Solidária já ajudou 223 instituições de solidariedade a combater o isolamento. Segundo explicou António Tomás Correia, presidente da Fundação Montepio e da Associação Mutualista Montepio, durante a cerimónia, a iniciativa continuará por muitos anos. Boas notícias para o setor da Economia Social.

Conheça aqui 20 associações vencedoras da Frota Solidária em 2019

 

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