“Queremos fazer mais e melhor em prol de uma vida mais humana nas comunidades”
O Voluntariado Corporativo do Grupo Montepio celebrou, em 2019, a sua sétima edição. Uma iniciativa da Associação Mutualista Montepio concretizada através do desenvolvimento de um conjunto de ações de solidariedade destinadas a apoiar comunidades necessitadas em várias localidades do país, incluindo as regiões autónomas.
Em entrevista ao Ei, o técnico do Gabinete de Responsabilidade Social da Associação Mutualista Montepio, Joaquim Caetano, conta como decorreu a iniciativa.
A edição deste ano trouxe novidades. O que diferenciou esta edição das anteriores e por quê a aposta no voluntariado de competências?
A estratégia de voluntariado do Grupo Montepio encontra-se estruturada em ciclos. De três em três anos é apresentado ao conselho de administração a estratégia vigente para o triénio seguinte. Em 2019 teve inicio um novo ciclo em que se pretendeu lançar um novo paradigma para a discussão desta temática dentro e fora do Montepio e que quebra a lógica dos ciclos anteriores.
O novo ciclo, com a designação “Um Novo Olhar”, propõe-se ter uma visão mais abrangente das principais entidades que compõem o Grupo Montepio: Associação Mutualista, Fundação Montepio, Banco Montepio, Lusitania, Bolsimo, Montepio Crédito, Montepio Valor e Residências Montepio (Seniores e estudantes). Mas também visa procurar novos targets, nomeadamente as famílias dos colaboradores e associados, que são a base da sustentabilidade do próprio Grupo.
Numa componente externa, “Um novo Olhar” propõe uma relação de proximidade mais efetiva com as comunidades locais através das organizações sociais estabelecidas nesses territórios. Daí o nascimento do PIS (Projetos de Intervenção Social). A grande diferença, que vai acontecendo pouco a pouco, é que nos PIS o Montepio procura ir ao encontro das necessidades de cada território e não atua só porque tem de atuar ou porque tem de desenvolver uma ação de voluntariado. Neste caso é a comunidade que diz o que quer e não o Montepio que define o que vai fazer. Por exemplo, em 2018, no bairro da Liberdade/Serafina, construímos carrinhos de rolamentos com a comunidade local, para um campeonato, e este ano, em Alcântara, tivemos cerca de dez colegas que aprenderam truques de magia com um mágico profissional, para depois irem às escolas ensinar as crianças.
Como se percebe, são conceitos completamente diferentes. Deixámos de fazer voluntariado corporativo para fazermos voluntariado transformador. Queremos transformar cada comunidade em que atuarmos, mas também queremos transformar os nossos voluntários em pessoas mais sensibilizadas para as temáticas sociais e ambientais com que nos deparamos todos os dias.
Este ano, a nossa ação de voluntariado abrangeu 33 PIS de norte a sul do país e regiões autónomas, com 620 colaboradores voluntários nessas comunidades abrangidas pela intervenção social do Montepio. Mas o caminho é o voluntariado de competências, para prolongarmos e intensificarmos ao longo do ano a nossa relação com as diversas comunidades intervencionadas. É um caminho seguro, lógico e que já tem alguma história no Montepio, nomeadamente a literacia financeira para crianças e adultos e os gestores de proximidade. Queremos fazer mais e melhor em prol de uma vida mais humana nas comunidades onde estamos presentes.
Em que consiste o PIS (Projetos de Intervenção Social)?
O PIS assenta na criação de projetos comunitários que desenvolvemos em conjunto com os parceiros locais, envolvendo cada vez mais vezes os empreendedores locais. O trabalho em conjunto e os resultados que se obtêm são fantásticos.
Mas continuamos a realizar as ações tradicionais. Este ano, por exemplo, pintámos e decorámos um quarto de um jovem de uma instituição ligada à paralisia cerebral, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida. Coisas tão simples como estas permitem, por vezes, pequenos milagres na vida de muitas pessoas. O PIS pode ser tudo o que quisermos em prol de uma comunidade, qualquer que ela seja e dos seus beneficiários ou residentes ou moradores. Depende muito da perspetiva de atuação definida para um determinado PIS. Não há um modelo concreto, adaptamos o PIS à realidade de cada comunidade de acordo com as suas necessidades. É um mundo novo que temos por explorar.
Como é feito o planeamento e implementação do Voluntariado Corporativo do Grupo Montepio?
Há um trabalho maior nos territórios com os nossos parceiros. Pretendemos saber o que a comunidade precisa. Estudamos projetos em conjunto e procuramos, em conjunto, as soluções que melhor sirvam determinada comunidade. As instituições estão no território. Nós conhecemos muito do seu trabalho e acompanhamos esse trabalho. E temos na Fundação Montepio, que atua há cerca de 25 anos na área social, um parceiro muito importante. Todos os colaboradores do Grupo nos trazem ideias, questões e parceiros locais. Os colaboradores são a maior fonte de inspiração para o nosso trabalho. São incansáveis e muito do trabalho desenvolvido a eles se deve.
Trazemos tudo para dentro da nossa casa. Estudamos, analisamos, metemos as mãos na massa e de seguida planeamos e executamos. Não há segredos, só mesmo muito trabalho, muita paixão e uma vontade enorme de fazer algo de bom pelas comunidades e pelas pessoas dessas comunidades, que muitas vezes somos nós próprios. O nosso Presidente resume o este trabalho numa expressão única: “A Associação Mutualista são pessoas que trabalham e vivem para ajudar as outras pessoas”. Tão simples como isto.
O que diferencia o Voluntariado Corporativo do Grupo Montepio dos outros tipos de voluntariado (empresarial e individual)?
A grande diferença é que não procuramos fazer team building, mas sim voluntariado a sério, com causas concretas e úteis. Quando pintamos uma parede, plantamos uma árvore ou construímos uma boxe para animais há um objetivo concreto. Não é pintar ou plantar ou construir só porque é giro. Não. Há uma realidade que nos faz pensar porque estamos a fazer aquilo e qual o objetivo final da nossa intervenção. Tudo é pensado ao milímetro. Trabalhamos sem rede. Às vezes corre muito bem, outras não. Sempre que sentimos que não atingimos o que pretendíamos, analisamos todo o processo e voltamos ao princípio. Somos persistentes, mas convictos nas nossas ações. Queremos ser úteis.
Que benefícios advêm para o Grupo, para as comunidades e para os próprios colaboradores? É fácil motivar os colaboradores para este tipo de prática?
Os benefícios são muitos e para todos. Procuramos que os colaboradores do Grupo Montepio se sintam mais úteis e que conheçam as realidades que vivem lado a lado, próximas de suas casas, dos seus locais de trabalho e das suas famílias. Dessa forma contribuímos para que as relações humanas se tornem permanentes, mesmo que as práticas tecnológicas tendam a distanciar as pessoas. “Humanizamos”, ou mantemos humanizada, a Associação Mutualista, ajudando-a a cumprir sua missão.
Gostávamos que as comunidades se envolvessem neste espírito de interajuda e esse grupo (colaboradores-comunidade) é o principal impulsionador de uma transformação social, que aposta nos laços entre as pessoas, na convivência, na cooperação e no mutualismo. Não precisamos de motivar os colaboradores, pois eles fazem parte de um grupo de voluntários já envolvidos com a causa social, somos auto-motivados para o social no Montepio.
Por isso, os benefícios para o Grupo são: aproximação institucional com a comunidade e criação e manutenção de laços comunitários, divulgação e extensão da cultura mutualista, desenvolvimento de equipas mais unidas, resilientes e eficientes, fortalecimento de uma cultura interna de cooperação, entre outros. Os colaboradores, costumam dizer, nas avaliações, que são os que mais ganham com o voluntariado: ampliam sua visão do mundo, desenvolvem competências pessoais e profissionais. E para as comunidades são os resultados das ações planeadas em cada caso, desde melhorias de infraestruturas até aprendizagens em ateliers e momentos de literacia.
O programa Voluntariado Corporativo do Grupo Montepio é também uma forma de a entidade cumprir a sua missão mutualista e de responsabilidade social?
Sim, é um facto. É uma forma da Associação, enquanto Grupo, cumprir a sua missão mutualista e de responsabilidade social. Mas é mais do que isso. É fazer com que as participadas do Grupo sintam a verdadeira vocação de Associação e transformar cada colaborador num verdadeiro mutualista. Num momento em que o mundo vive algumas crises de valores sociais, queremos de forma muito simples ajudar a difundir as ideias e práticas de entreajuda, que são os ideais mutualistas que outrora fizeram nascer a nossa organização e que agora, com nossa prática de solidariedade e cidadania, estamos a fazer crescer e perpetuar.
Que avaliação faz desta edição? Como foi a adesão dos colaboradores voluntários?
A avaliação não podia ser melhor. Inicialmente estavam presentes 25 PIS (que são nossas unidades de ação territorial) e no final realizámos 33. Pensávamos que teríamos, no máximo, 430 colegas inscritos e chegámos a 620. A adesão e a resposta ao nosso chamamento foi excelente e a envolvência foi natural. Agora, no mês de junho, vamos proceder com zelo à avaliação dos resultados deste trabalho, nomeadamente, analisando as respostas dadas pelos colegas envolvidos, bem como das entidades parceiras que estiveram connosco nessa aventura em maio.
Depois, elaboramos o relatório e fazemos questão de apresentar publicamente aos colegas, parceiros e sociedade em geral, como uma ferramenta de continuidade e melhorias estruturadas e estruturantes. Enviamos ainda um sumário desse relatório para as redes internacionais de voluntariado de que fazemos parte, como o CEV e o IAVE.
Os próximos passos serão refletir sobre os resultados obtidos e corrigir rotas, se necessário, para obtermos melhores resultados nas próximas ações.
Vale ressaltar que no conceito de PIS não contabilizamos número de ações, ou seja, todo o trabalho é visto como um projeto único. Mas se estivéssemos a falar em ações, na lógica antiga, seriam mais de 100 ações, pois cada PIS tem um número de ações.
Enumerar os trabalhos realizados em cada PIS é um pouco difícil pela riqueza de iniciativas, pois passam por trabalhos mais intensos como o da Habitat for Humanity, em Braga, que contribuiu para a construção de habitação social, workshops de literacia financeira e de cozinha, por exemplo, no Vale das Amoreiras. Na Baixa, a recuperação e limpeza de habitações de idosos. A lista é grande.
O nosso verdadeiro gosto foi termos acabado o mês de maio com o sentido de dever cumprido. Este foi o nosso grande triunfo e todos saímos a ganhar: Montepio, colaboradores, entidades parceiras, beneficiários dessas entidades e comunidades em geral.
O voluntariado do Montepio também sai mais reforçado com este mês de maio de 2019, com a certeza de que caminhamos no sentido certo. Vamos olhar já para os próximos projetos e a para a 8ª edição do Prêmio de Voluntariado Jovem, que irá acontecer ainda este ano no norte do País.
O programa Voluntariado Corporativo do Grupo Montepio realiza-se durante o mês de maio. Há algum acompanhamento posterior das comunidades intervencionadas?
O mês de maio é só a ponta do icebergue. Todos os trabalhos são acompanhados a posteriori. Mais do que isso, trabalhamos todo o ano para que tudo aconteça e vá acontecendo ao longo do ano. Lembro-me, por exemplo, de outro programa fantástico que é o Prémio Voluntariado Jovem, caso único em Portugal, em que os conceitos de juventude e de comunidade andam de braço dado. Há um trabalho continuo e invisível ao longo dos 12 meses do ano. Estamos a trabalhar intensamente em projetos novos com os conhecimentos que vamos tendo nos territórios onde intervimos. É essa a nossa diferença. Trabalhamos em função da comunidade e não fazemos ações pontuais, abrangendo esta ou aquela instituição.
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