Moedas virtuais e locais: novos métodos de pagamento em debate

O economista Jorge Landeiro de Vaz e o presidente da junta de freguesia de Campolide, André Couto foram protagonistas da conferência-debate sobre formas alternativas de pagamento, que aconteceu no dia 31 de outubro no espaço atmosfera m, em Lisboa. 
Artigo atualizado a 07-11-2017

Três moedas com sistemas monetários distintos, de natureza diferenciada e que realizam funções díspares. Em comum têm o facto de serem moedas contemporâneas, do século XXI, com estatuto legal, serem método de pagamento e promoverem a atividade económica.

Moedas virtuais: a revolução do pagamento

A primeira parte da conferência esteve a cargo de Jorge Landeiro Vaz, economista e professor no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), que defende que as moedas virtuais (Bitcoin) podem ser mais eficientes do que as moedas dos sistemas regulados, pois facilitam a transação direta (peer to peer). A moeda virtual constitui, ainda, uma oportunidade para sistemas alternativos. “Há aqui um impacto violentíssimo no sistema bancário. Todos os sistemas de pagamento estão a ser impactados por estas tecnologias e também pelas oportunidades de negócio que estão a ser geradas no setor não bancário”, explicou Landeiro Vaz.

O dedo é apontado à tecnologia Blockchain – que está por trás da Bitcoin – e que o professor classifica como “disruptiva”, dando como exemplo a implementação da PSD2 (Diretiva Europeia de Serviços de Pagamento), que vai permitir o acesso a contas bancárias de entidades não bancárias. Quando, em 2018, esta diretiva estiver implementada, o papel dos bancos enquanto intermediários será reduzido. “Vão surgir operadores que juntam numa mesma plataforma digital todas as contas de um utilizador e o impacto será fortíssimo. As comissões cobradas pelos bancos nessas áreas vão ser esmagadas”.

Lixo: a moeda local de Campolide

Se a moeda virtual é uma revolução global, as grandes mudanças também ocorrem a nível local. André Couto, presidente da Junta de Freguesia de Campolide, apresentou o “Pago em Lixo”, um projeto implementado nesta freguesia e que criou uma moeda local. Assim, e ao entregarem os seus resíduos em postos de recolha da freguesia, os cidadãos recebem notas de “Lixo”, uma moeda que pode ser usada posteriormente para obter descontos em estabelecimentos comerciais.

Esta iniciativa tem dois objetivos: incentivar a separação dos resíduos e sensibilizar a população a fazer compras no comércio local. “Depois da construção das Amoreiras e do El Corte Inglés instalou-se uma crise profunda no comércio tradicional de Campolide. Era a base da nossa freguesia e foi definhando”, explicou André Couto. “Por outro lado, achamos que a gestão de resíduos é muito relevante. A nossa utopia é que em cada casa de Campolide não se produza lixo”.

Da união destas duas intenções nasceu a moeda local, o “Lixo”. Segundo explicou o autarca, o mais difícil foi mudar as mentalidades dos comerciantes que não “não viram com bons olhos que fossem lá beber café e pagassem com notas de monopólio. Com o tempo, e com o impacto que o projeto teve na comunicação social, passou a ser ao contrário”. Hoje, existem já 180 estabelecimentos comerciais onde se pode pagar com “Lixo”.

De Campolide para a Palestina

O impacto que esta moeda local teve na freguesia – e a divulgação na comunicação social – levou o projeto além-fronteiras. “Fomos convidados para ir a Barcelona a uma conferência internacional de moedas locais. Dali saiu um consórcio com a Grécia, Itália, Espanha, Palestina e Jordânia”. Este consórcio apresentou uma candidatura a um fundo europeu, que garantirá que o “Lixo” será implementado na Palestina, um território que, segundo André Couto, “tem problemas semelhantes aos de Portugal, em termos de lixo espalhado”.

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