um fenómeno tão antigo como a História das civilizações: a chegada de uma nova tecnologia vem sempre acompanhada de promessas de um mundo melhor, mas também de cenários catastrofistas. No caso das redes sociais, e em particular de aplicações como o TikTok e o Instagram, que nos alimentam o dia com uma avalancha de vídeos de muito curta duração, estarão os nossos cérebros confrontados com uma realidade diferente de outras no passado?
Juliet Weisfogel, uma adolescente norte-americana de 17 anos, admite que tem um problema de adição. Quando o pai lhe mostrou um vídeo de uma campanha antidrogas dos anos 80, no qual o cérebro de um toxicodependente é comparado a um ovo estrelado, a jovem questionou-se se o seu cérebro não estaria também a fritar devido ao consumo diário de vídeos de curta duração no TikTok.
“Não consigo imaginar a minha vida sem o TikTok. E, no entanto, preciso desesperadamente de uma vida sem TikTok”, diz Juliet, em jeito de pedido de ajuda, num artigo de opinião publicado no jornal The New York Times.
“O TikTok define as pessoas da minha idade, dita as nossas conversas, escolhe a nossa roupa e determina aquilo que compramos”, afirma a jovem no seu artigo, escrito em janeiro, à boleia de uma lei norte-americana que prometia proibir o uso da rede social chinesa nos Estados Unidos da América. “Sou uma jovem de 17 anos que é dependente do TikTok, e apoio, sem reservas, uma lei que me impeça de continuar a ter acesso à minha dose.”
Desde a publicação do artigo de opinião de Juliet, a proibição do TikTok nos EUA já foi adiada por três vezes pelo presidente norte-americano, Donald Trump. A lei foi aprovada em 2024 com um raro apoio bipartidário no Congresso norte-americano – devido a questões relacionadas com o receio de violação da segurança nacional por uma empresa com ligações ao Estado chinês – e devia ter entrado em vigor em janeiro passado, mas deverá ser novamente adiada devido às negociações comerciais entre os EUA e a China.
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Pouca discussão nas escolas
Rodrigo Vitória, um jovem de 17 anos residente em Penalva do Castelo, é utilizador do TikTok, que usou pela primeira vez quando tinha 13 anos. Ao contrário da nova-iorquina Juliet Weisfogel, Rodrigo afirma que nunca deu prioridade às redes sociais, embora admita que o TikTok, em particular, “acaba por ser um bocadinho viciante”.
“Gosto imenso de praticar desporto e dou mais prioridade a isso do que a estar agarrado ao telemóvel”, confessa numa conversa por telefone.
No seu círculo de amigos, diz Rodrigo, há conversas sobre os possíveis efeitos do excesso de uso das redes sociais, mas sempre que o tema é puxado nas salas de aula a iniciativa parte dos próprios alunos. “Na minha turma, nós próprios tentamos introduzir a conversa para ouvirmos os conselhos dos professores. Acho que nem todas as escolas têm essa preocupação. Na minha escola, por exemplo, sei que em algumas turmas não se fala disso.”
Os receios e os alertas de Juliet, e as dúvidas de Rodrigo, são partilhados por psicólogos e neurologistas de todo o mundo, e deram azo, nos últimos anos, a um punhado de artigos científicos – e a incontáveis notícias nos media – sobre os potenciais efeitos negativos do consumo excessivo de vídeos de curta duração como os que são partilhados no TikTok e no Instagram.
Segundo um estudo do instituto norte-americano Pew Research Center, publicado em dezembro de 2024, 63% dos adolescentes dos EUA entre os 13 e os 17 anos usam o TikTok todos os dias, e 16% admitem estar nessa rede social “quase constantemente”.
“A primeira vez que as minhas filhas tiveram TikTok foi numa conta criada por mim no meu telemóvel, e eu passei os dois primeiros dias a treinar o algoritmo”
“Apodrecimento do cérebro”
Em mais um sinal de que a preocupação com os possíveis efeitos do TikTok no cérebro das crianças e adolescentes é um facto incontornável, os responsáveis do Dicionário de Inglês de Oxford escolheram “brain rot” (apodrecimento cerebral) como a palavra do ano em 2024.
Segundo o dicionário, o termo é usado – a par de um outro, o “cérebro de TikTok” – para designar “a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, principalmente como resultado do excesso de consumo de conteúdo online considerado trivial ou pouco desafiante”.
“Um novo estudo liga a dependência de vídeos curtos a anomalias no cérebro”, lê-se no título de um dos vários artigos sobre o assunto publicados nos media nos últimos anos. Noutro, mais assertivo, afirma-se que o TikTok “está a matar o cérebro, um vídeo curto de cada vez”.
No centro das preocupações está um sistema – o algoritmo que faz funcionar o TikTok – que visa manter os utilizadores presos num círculo vicioso de estímulos e recompensas, alimentado por um fluxo constante de vídeos de duração muito curta, com um mínimo de três segundos.
Dado que uma parte substancial dos utilizadores do TikTok são adolescentes e jovens adultos – uma fase da vida particularmente vulnerável à validação e à rejeição dos pares, e caracterizada por comportamentos de risco –, são compreensíveis as preocupações das famílias e dos especialistas em saúde mental.
No entanto, há também quem olhe com cautela para os estudos disponíveis, e quem saliente que a História está repleta de exemplos de pânico social causado pela introdução de uma nova tecnologia.
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Pânicos sucessivos
Num artigo publicado em 2020, Amy Orben, uma psicóloga experimental britânica que se dedica ao estudo dos efeitos das tecnologias digitais na saúde mental dos adolescentes, cunhou o termo “Ciclo Sisifiano de Pânicos Tecnológicos”, numa referência ao rei Sísifo.
Segundo a mitologia grega, Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar uma pesada pedra montanha acima, apenas para a ver de novo a rolar para baixo sempre que conseguia chegar ao topo. Na analogia de Orben, os investigadores científicos fazem o papel de Sísifo, numa busca incessante – e inglória – por dar respostas aos medos e inquietações das sociedades perante a introdução de uma nova tecnologia, num ciclo que recomeça ainda antes de poder ser encerrado, devido ao aparecimento de um novo pânico tecnológico.
São vários os exemplos na História. Em Diálogos, de Platão, o filósofo Sócrates defende que a palavra escrita prejudica a transmissão de conhecimento ao privar o leitor de um interlocutor com quem possa debater; quase dois milénios depois, no século XV, a generalização da prensa móvel na Europa foi recebida com uma crítica semelhante, devido aos riscos de banalização de livros de baixa qualidade; já no século XX, a rádio e a televisão, num primeiro momento, e os videojogos, mais recentemente, foram associados a uma maior propensão para a alienação ou a violência entre os adolescentes.
Acerca da súbita expansão da telefonia nos lares das famílias norte-americanas ao longo da década de 1930, uma das principais revistas dos EUA sobre parentalidade – a Parents, fundada em 1926 e encerrada em 2022 – fez soar os alarmes, em 1935, de uma forma não muito diferente daquela a que nos habituámos a ler em textos sobre os smartphones e as redes sociais.
“Estamos perante um aparelho cuja voz está em todo o lado. Podemos questionar a qualidade daquilo que oferece às nossas crianças, podemos aprovar ou deplorar os seus entretenimentos e encantos, mas somos impotentes para o desligar. Entra nas nossas casas e captura os nossos filhos perante os nossos olhos.”
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Vigilância e cautela
Apesar deste ciclo a que as sociedades parecem estar condenadas, segundo a investigadora britânica Amy Orben, não faltam avisos sobre a especificidade do TikTok. É essa especificidade que leva muitos investigadores a sugerirem a existência de uma relação direta entre o consumo excessivo de vídeos de curta duração e a diminuição da capacidade de atenção, principalmente nas crianças e adolescentes.
Numa entrevista conduzida por email, a psicóloga norte-americana Angeline Lillard, professora de Psicologia na Universidade da Virgínia e especialista reconhecida na área do desenvolvimento infantil, reconhece que as sociedades “estão sempre preocupadas com a próxima nova tecnologia”, mas salienta que isso não significa que os riscos e ameaças podem ser desvalorizados.
“Existe mesmo uma diferença nas tecnologias atuais e, dado aquilo que já sabemos sobre a importância da interação humana física no desenvolvimento e na aprendizagem, considero que há motivos para estarmos vigilantes”, afirma a especialista.
“A primeira infância é quando as redes cerebrais estão a ser estabelecidas. Como mãe, penso que devemos ser cautelosos em relação à exposição, com base na investigação teórica e empírica que já existe”, diz Lillard, autora de estudos sobre os efeitos da televisão nas crianças.
Num desses estudos, sobre os efeitos de vários tipos de filmes de animação, a investigadora concluiu que são os conteúdos – e não necessariamente a duração ou o ritmo – que geram “impactos negativos nas funções executivas das crianças”.
“Extrapolando a partir dos estudos sobre televisão, as crianças que veem mais conteúdos comerciais são mais vulneráveis a ter estereótipos, a quererem comida de plástico, a serem mais obesas e mais sedentárias, a acreditarem que os outros têm mais dinheiro do que elas, e assim sucessivamente”, salienta a especialista.
“Temos de ter em conta que tipo de ideias estão a moldar uma mente em desenvolvimento. Os pais são responsáveis por ajudarem ao processo de adaptação das crianças e garantirem que elas aprendem aquilo que é importante a cada idade.”
No mesmo sentido, Catarina Luís, médica neuropediatra nas unidades de saúde da CUF Belém e CUF Sintra, parceiras do Plano Montepio Saúde, e responsável pela consulta de Neurologia Pediátrica no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, reconhece que existe “uma preocupação com o imediatismo” dos vídeos curtos do TikTok “e com os seus eventuais efeitos na capacidade de atenção”, embora saliente a ausência, por enquanto, de evidência científica sobre o verdadeiro impacto.
“Os estudos estruturados e bem feitos centram-se nos conteúdos e nos impactos das redes sociais, no geral, nos adolescentes. E os impactos podem ser positivos ou negativos”, diz a especialista. “Há sempre o medo de que a visualização de vídeos de três, cinco ou dez segundos faça com que os adolescentes não tenham capacidade para manter uma atenção mais sustentada, mas a verdade é que eles continuam a estar horas e horas a jogar videojogos”, exemplifica.
“A primeira infância é quando as redes cerebrais estão a ser estabelecidas. Como mãe, penso que devemos ser cautelosos em relação à exposição, com base na investigação teórica e empírica que já existe”
Efeitos desconhecidos da pandemia
Tal como outros especialistas, Catarina Luís considera que ainda é cedo para se tirarem conclusões definitivas sobre uma eventual relação causal entre o uso excessivo do TikTok e a diminuição da capacidade de atenção.
Além de outras possíveis variáveis, a neurologista salienta que a pandemia da Covid-19 veio desestruturar o tecido social tal como o conhecemos, e nota que ainda não são conhecidas todas as consequências desse período nos processos de desenvolvimento e aprendizagem.
“Por um lado, a pandemia veio trazer mais atenção aos problemas de saúde mental; por outro lado, há aqui uma geração de crianças que, em idades muito importantes para a socialização, quando era suposto brincarem e estarem na rua umas com as outras, ficaram fechadas em casa em anos muito complicados. Isso pode estar a contaminar os factos”, afirma Catarina Luís, referindo-se às conclusões de estudos que sugerem uma relação direta entre o uso excessivo do TikTok e um suposto “apodrecimento do cérebro”.
“Tivemos adolescentes que ficaram dois anos fechados em casa, sem socialização com os pares e só com socialização à distância. Há um conhecimento robusto sobre o facto de o cérebro de um adolescente, geralmente entre os 13 e os 17 anos, ser diferente do cérebro de um adulto. A adolescência é uma fase em que o adolescente precisa de descobrir quem é, e em que aquilo que era a validação dada pela família vai-se transferindo para o grupo de amigos, que antigamente era o grupo de amigos da escola, da rua, do meio onde estavam”, explica a médica.
“É muito difícil perceber se há impactos em termos de atenção devido a um consumo ultrarrápido de vídeos curtos nas redes sociais, e certamente esse não será o único fator. Estamos numa sociedade cada vez mais informatizada e é impossível bloquear o acesso dos adolescentes a este tipo de ferramentas”, salienta Catarina Luís, para quem o problema “é o uso excessivo e a ausência de outros estímulos gratificantes”.
“Como se trata de vídeos muito curtos, estamos expostos a mais likes e a mais comentários negativos, a uma maior estimulação dos centros que nos dão validação ou rejeição”, diz a especialista.
“Em alguns estudos de ressonância funcional conseguimos ver que, perante os mesmos estímulos, o cérebro de um adolescente tem uma ativação muito superior ao de um adolescente mais velho ou de um adulto. São muito mais dependentes da validação externa do like e muito mais vulneráveis à crítica do comentário negativo. Esta exposição amplifica o ciclo. Vão expor-se mais para terem mais likes e vão assumir mais riscos, sendo que a tomada de riscos sempre foi característica dos adolescentes.”
Por isso, especula, o problema “não será tanto a rapidez e a brevidade dos vídeos, mas o excesso de consumo, o facto de se estar quatro horas agarrado a uma rede social sem fazer mais nada e o tipo de conteúdo”.
Como conselhos aos pais, Catarina Luís aponta o seu próprio exemplo. “A primeira vez que as minhas filhas tiveram TikTok foi numa conta criada por mim no meu telemóvel, e eu passei os dois primeiros dias a treinar o algoritmo. No primeiro dia, apareciam vídeos de rapazes e raparigas adolescentes com pouca roupa a dançar, e fui ignorando esses vídeos e começando a ver outros vídeos para que o algoritmo se adaptasse.”
Depois, é preciso inculcar a ideia de que o uso das redes sociais faz parte do tempo livre: “Há uma série de coisas que temos de fazer, como descansar, fazer os trabalhos de casa, arrumar, e só depois, no nosso tempo livre, é que podemos ir um bocado às redes sociais.”
Comunicação real e humanizada
O Montepio Associação Mutualista tem uma presença descontraída e interativa no Instagram, com uma atenção muito particular aos jovens adultos — dos 18 aos 35 anos —, por estarem numa fase de transição importante nas suas vidas. “Para muitos, é o momento de entrada no mercado de trabalho e na gestão financeira, ou de nascimento de filhos e planeamento do futuro”, explica Rita Pinho Branco, diretora de comunicação, marketing e digital do Montepio Associação Mutualista. Por essa razão, há uma aposta em conteúdos que combinam informação (como dicas financeiras ou benefícios mutualistas) com formatos atrativos (como vídeos, carrosséis interativos e stories dinâmicos). “O tom da comunicação é próximo e autêntico, acompanhando as novas tendências, mas sem nunca perder a essência da marca”, refere a especialista.
O público mais jovem (a Gen Z, dos 13 aos 28 anos, e os Millennials, dos 29 aos 44) procura um misto de entretenimento, autenticidade e conexão, com conteúdos mais rápidos e envolventes. Por essa razão, a narrativa é marcadamente real e humanizada. Este ano, por exemplo, o Montepio Associação Mutualista lançou a 3.ª edição do passatempo #MyStage, direcionada aos jovens e ao Instagram, concebida para dar palco aos sonhos de crianças e jovens com talentos escondidos. O #MyStage é focado nos jovens até aos 18 anos, sendo que os menores de 13 anos podem participar através dos perfis dos pais, e este ano é dinamizado pelos D.A.M.A., depois de duas edições com Fernando Daniel e Carolina Deslandes.
A resposta tem sido muito positiva. “O que sobressai em todas as análises — mensais, trimestrais e anuais — é o aumento de interações dos jovens quando são feitas parcerias com eventos ou personalidades que lhes são próximos, como os concertos de aniversário do Montepio Associação Mutualista, atuações das suas bandas favoritas, festivais de verão, festivais de nicho (como o Iberanime) e o #MyStage”, revela Rita Pinho Branco.
Equilibrar tradição e modernidade
Segundo uma análise interna do Montepio Associação Mutualista, a audiência da página tem vindo a alterar-se. “Nos últimos anos, observámos um crescimento de seguidores junto do público mais jovem e também dos seus pais”, refere Rita Pinho Branco. A instituição pretende impactar associados e potenciais associados com conteúdos que “espelham a amplitude e diversidade da sua oferta, das modalidades mutualistas ao Plano Montepio Saúde, às vantagens e benefícios em diferentes áreas, a passatempos com prémios, a experiências a custo reduzido ou a dicas de poupança e proteção”.
A estratégia da marca tem acompanhado a evolução da plataforma e o comportamento dos utilizadores. Hoje, assenta em recursos como pesquisas de opinião, caixas de perguntas e transmissões em direto, instrumentos essenciais para fomentar o diálogo e criar fidelização. “[O objetivo] é comunicar os valores do mutualismo junto de públicos mais jovens: os conceitos de solidariedade coletiva e cooperação financeira em prol do bem comum podem parecer mais abstratos ou distantes da realidade atual”, admite a gestora de marketing. “Muitos jovens reconhecem a importância de poupar, tendo maior sensibilidade para a literacia financeira, mas muitos não dão prioridade a esse aspeto, assumindo que querem aproveitar a vida ao máximo, aplicando o seu dinheiro em experiências que os façam felizes”, esclarece. No Instagram do Montepio Associação Mutualista, mostra-se que é possível conciliar poupança e estilo de vida, através dos milhares de descontos disponíveis, em festivais e espetáculos, viagens, estadas, universidades, colégios e centros de estudo.
No fundo, trata-se de equilibrar tradição e modernidade e de manter a identidade da marca, alinhando-a com a linguagem das novas gerações, o que exige criatividade e sensibilidade. Por exemplo, através do humor, como prova a recente resposta a um story de Carolina Deslandes, no qual a artista fazia uma piada dizendo que tinha “testa de mealheiro”. “Respondemos: ‘A poupança está-lhe na pele’, comentário que foi partilhado pela própria nas suas redes sociais e ao qual retorquimos com nova publicação e referência ao mealheiro que produzimos com o seu rosto (uma das ofertas disponíveis na admissão de novos associados). Esta interação gerou notícia nos meios de comunicação social e entusiasmou os seguidores, que pediram para ter também um desses mealheiros”, conclui Rita Pinho Branco.
MONTEPIO ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA
Todos os dias, conteúdos novos para toda a família
Desenvolver hábitos saudáveis
No extremo oposto de um alarmismo sem base em evidência científica está Peter Etchells, professor de Psicologia e Comunicação de Ciência na Universidade de Bath, no Reino Unido. Segundo este especialista, que investiga os efeitos a curto e a longo prazo dos videojogos e de outras formas de tecnologia digital no comportamento, “não há evidência científica que confirme a ideia de que os vídeos de duração curta são especificamente maus em termos de efeitos no cérebro”.
Num artigo no site BBC Science Focus, publicado em fevereiro, Etchells e o neurocientista cognitivo britânico Christian Jarrett questionam a relevância científica de estudos publicados nos últimos anos sobre uma suposta relação direta entre os vídeos de curta duração e o fenómeno do “apodrecimento do cérebro”.
“A dependência causada por vídeos de curta duração é um termo inventado, e não um transtorno clínico formalizado e diagnosticável”, diz Etchells. No entanto, os dois especialistas salientam – à semelhança dos avisos lançados pela psicóloga Angeline Lillard e a neuropediatra Catarina Luís – que o tempo excessivo passado a ver vídeos “sem valor” pode ser um problema para algumas pessoas.
“Em vez de nos preocuparmos com alterações do cérebro ou com adições, seria mais produtivo focarmos a nossa atenção em desenvolver hábitos mais saudáveis de consumo dos media”, conclui o neurocientista Christian Jarrett.