Os nossos filhos estão a brincar o suficiente ou estão só a brincar pior?

Os nossos filhos estão a brincar o suficiente ou estão só a brincar pior?
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Fotografia de José Carlos Carvalho e DR
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alvez as duas hipóteses. Especialistas indicam que não há tempo ou espaço para se brincar livremente – longe dos adultos ou dos ecrãs. Resultado? Menos saúde física e mental.

“Ainda bem que se sujou. É sinal de que brincou.” A resposta de Lilian Fraga a uma funcionária da escola exemplifica a posição que esta mãe assume em relação ao que é uma brincadeira de qualidade: sim, era sujidade, mas eram também os vestígios de um dia potencialmente ativo da (então) criança.

A psicóloga, natural de Coimbra e mãe de três filhos, hoje com 15, 19 e 22 anos, reconheceu sempre a importância da brincadeira no crescimento das crianças. Mas foi acompanhando as mudanças e sabe que hoje os mais jovens brincam de forma diferente: “Brincam cada vez mais sozinhos porque têm menos irmãos, menos vizinhos, menos liberdade para andar na rua, menos recreio, pois o tempo é cada vez mais curto.” Brincam menos porque têm menos tempo livre: “Têm rotinas muito orientadas pelos adultos, nem têm tempo para se aborrecer sozinhos.”

Carlos Neto, o maior especialista “em brincadeira” no país, e Andreia Araújo, pedopsiquiatra da CUF, fazem a mesma leitura. As crianças não estão só a brincar menos: estão a brincar da forma errada. Hoje há telemóveis, tablets, computadores, consolas. Muitas famílias vivem em casas pequenas, sem zonas exteriores. Em Portugal, não há tempo ou sequer espaço: os pais trabalham muitas horas, as crianças têm o tempo preenchido com atividades controladas por adultos e não brincam livremente. Os recreios e os parques infantis são plastificados, sem espaços verdes. Brincar é um reflexo da sociedade – e a sociedade pode estar a desvalorizar a importância da brincadeira, encarando-a como algo trivial e inútil, alerta Carlos Neto. Mas é exatamente o contrário.

Catarina Beato lê uma história às filhas Maria Luiza e Mariana. A influenciadora digital não exclui o telemóvel da vida das crianças. “É importante que ganhem literacia digital”

É difícil definir o termo brincar. Trata-se, afinal, de um mundo de possibilidades. “Brincar é não ter qualquer preocupação, é o fazer de conta”, diz Maria de Vasconcelos, médica psiquiatra na CUF e mãe de Mathilde e Manon, com 17 e 19 anos, respetivamente. “É tudo aquilo que não são os nossos deveres: correr, saltar, jogar às escondidas, rir muito”, continua a também autora de As Canções da Maria, projeto infantil que ensina a matéria escolar às crianças através da música.

“É o trabalho das crianças”, brinca João Santos, pai de Carlota, com pouco mais de um ano. De acordo com Carlos Neto, que trabalha com crianças há cinco décadas, brincar é, na sua essência, uma ação que reflete um corpo livre em contacto com o seu meio – um “ato exploratório”. Para o professor e investigador da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, é “um comportamento insubstituível, uma linguagem universal” – afinal, todas as crianças entendem-se brincando. É também uma ação instintiva e inata: “É a magia da nossa essência”, diz. Por isso, “qualquer criança tem motivação intrínseca para brincar desde que haja condições contextuais para o fazer.”

Mas é preciso estar atento. Brincar é tão importante que a ausência desta atividade, nas primeiras etapas da vida, sinaliza problemas de saúde. “Quando a criança não brinca ou deixa de brincar é sinal de que está doente”, alerta Andreia Araújo. Mas as brincadeiras não são todas iguais e este aspeto é fundamental para compreender o motivo pelo qual se diz que as crianças estão a brincar menos – ou, pelo menos, com qualidade inferior.

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As crianças brincam melhor sozinhas

Os filhos de Catarina Beato, influenciadora digital e mentora de relacionamentos, brincam de uma forma muito diferente. Maria Luiza, de 7 anos, prefere as atividades físicas: corre, sobe às árvores, gosta de arriscar. Afonso, de 12, tem fascínio pelo interior de todos e quaisquer aparelhos – até pede aos pais que comprem computadores no OLX para os poder desmontar, estudar e voltar a montar. Mariana tem 2 anos e gosta de brincar ao faz-de-conta com os seus bonecos.

Já Mathilde e Manon, filhas Maria de Vasconcelos, sempre adoraram atividades ligadas ao universo das artes. “Foi uma coisa muito presente cá em casa. Lembro-me de estarem com aqueles aventais de plástico enormes para não se sujarem, mas claro que acabavam cheias de tinta”, lembra a psiquiatra.

Apesar de estes relatos conterem brincadeiras muito distintas, é possível identificar pontos em comum. Encerram um caráter mais livre, que permite à criança escolher o caminho e usar a imaginação. É o chamado brincar espontâneo, um dos três tipos de brincadeiras que têm impacto distinto no desenvolvimento.

Do ponto de vista da saúde mental, o brincar espontâneo, onde pode incluir-se o jogo simbólico – ou o chamado brincar ao faz-de-conta –, é o mais rico, explica a pedopsiquiatra Andreia Araújo. “Quanto mais livre e imaginativa a brincadeira, melhor.” Porquê? Porque a criatividade e a imaginação geram crianças e adultos confiantes e adaptativos.

E é preferível que estejam sozinhas, condição que prevalece nas brincadeiras espontâneas: está provado que, na presença de adultos, as crianças brincam de forma diferente, refere a pedopsiquiatra, que cita estudos científicos. “Outras formas de atividade independente, como ir para a escola de bicicleta ou caminhar sem um adulto, aumentam o bem-estar.”

E para brincar com qualidade são precisos brinquedos? Longe disso. Com pouco mais de um ano, não são os escorregas ou os baloiços que captam a atenção de Carlota nas idas ao parque. “Basta uma folha. Agarra nela, esmaga-a, percebe que ela estala, que se parte”, conta João Santos, que vive nas Avenidas Novas, no centro de Lisboa. Há um fascínio desta criança pela novidade: “E para ela tudo é novo. As coisas mais simples são novas.”

Uma simples caixa de cartão é fonte de entretenimento. “Temo-la há dois meses e tem sempre uma utilidade nova: para pôr e tirar os brinquedos repetidamente ou andar simplesmente com a caixa de trás para a frente.” Assim se entende que, para esta bebé, brincar não depende dos brinquedos que lhe foram comprados e oferecidos. A brincadeira depende somente do seu corpo, imaginação e curiosidade.

“O brincar pode-se fazer com vários objetos. E esses objetos podem ser brinquedos, mas o brincar não é só brincar com brinquedos”, diz Carlos Neto.

Mathilde fotografa Manon. As filhas da psiquiatra Maria de Vasconcelos, que a acompanham no mundo das canções, sempre preferiram as brincadeiras relacionadas com artes

O que está a piorar as brincadeiras das crianças?

De acordo com Andreia Araújo e Carlos Neto, as crianças estão a brincar menos e, quando brincam, brincam pior. Mas porquê? Há vários motivos – e estão todos ligados.

Para o investigador, a grande causa para a fraca qualidade da brincadeira reside num sistema social e cultural que negligencia a importância desta ação. “Em Portugal, brincar é considerado um comportamento de segunda escolha, inútil, é um passatempo e, portanto, não é produtivo”, descreve Carlos Neto.

É precisamente o oposto disso: a ciência já mostrou que brincar nos primeiros mil dias de vida (até aos dois anos e meio) é absolutamente essencial no desenvolvimento da criança. “A brincadeira espontânea é uma condição fundamental para um cérebro bem desenvolvido”, diz Carlos Neto. Porquê? Contribui para o aumento da plasticidade e amplitude do cérebro. Uma criança que brincou por si própria tem maior probabilidade de se tornar um adulto capaz de se adaptar rapidamente a diferentes circunstâncias.

Este tipo de brincadeira contribui ainda para adultos com o corpo e a mente saudáveis. Isto porque as crianças que brincam livremente têm o potencial para se tornarem adultos que se alimentam bem, dormem o número de horas suficiente e praticam desporto. Através da brincadeira constroem-se as fundações para os principais pilares de saúde.

E as consequências de não brincar? Num primeiro momento, podem surgir dificuldades de aprendizagem, refere Andreia Araújo. Depois, há o impacto na saúde mental: uma revisão sistemática (que reúne vários estudos) observou que a diminuição ou o declínio da brincadeira ou da atividade independente pode estar ligada à redução do bem-estar mental das crianças, diz. Brincar é, pois, um antidepressivo natural, lembra Carlos Neto.

Ao longo das últimas cinco ou seis décadas tem havido uma diminuição das oportunidades para as crianças brincarem, passearem e envolverem-se noutras atividades, de forma independente, sem supervisão direta e controlada dos adultos. Resultado? Não desenvolvem as características mentais essenciais para lidar eficazmente com as adversidades da vida. Aumentam, assim, as taxas de ansiedade e depressão nas crianças.

“Sabemos que muitos comportamentos negativos e inadequados, de violência, de bullying, de indisciplina, são provocados porque as crianças não tiveram oportunidades de brincar”, adianta Carlos Neto. Soma-se a isto o insucesso escolar, assim como as relações sociais com os pares comprometidas. O investigador refere ainda o aumento da tendência para problemas com a justiça na adolescência e na vida adulta.

“Em Portugal, brincar é considerado um comportamento de segunda escolha, inútil. Mas a brincadeira espontânea é uma condição fundamental para um cérebro bem desenvolvido”

Carlos Neto, especialista em educação

Falta de tempo? É um problema

O dia de Rodrigo, Associado Montepio de 4 anos, está repleto de atividades na companhia da mãe e do pai: não tinha completado um ano quando começou a ir ao teatro. “Portou-se sempre muito bem”, recorda Ana Rita Matos, a mãe. Em 2021, com o país a acordar lentamente para a vida cultural, esta família de Corroios, na margem sul do Tejo, começou a recuperar o tempo perdido. Os três tornaram-se presença habitual nas peças de teatro apoiadas pelo Montepio Associação Mutualista, no Teatro Infantil de Lisboa (TIL) mas também no Politeama. “Fomos à Cinderela – O Musical dos Seus Sonhos, ao Mundo Mágico de Jack, ao Principezinho e ao Feiticeiro de Oz. O Rodrigo viu a lua cheia de barco, em Sesimbra, divertiu-se no anfíbio Hippotrip, participou no Festival Panda e assistiu ao concerto do Panda e os Caricas”, explica a mãe.

“Está na idade da imaginação e fazemos muito jogos juntos. Brincamos aos supermercados e aos cozinheiros, porque ele sempre gostou de imaginar que fazia comida”, diz Ana Rita Matos. Como todas as crianças, Rodrigo passa por várias fases num curto período de tempo. Ultimamente, está fascinado por animais. “Já fomos ao Zoo de Lisboa e ao Zoomarine, aproveitando os descontos de Associado Montepio”, revela a mãe.

Infelizmente, esta não é a realidade da maioria dos agregados familiares. Para Andreia Araújo a falta de tempo é, precisamente, um dos maiores inimigos da brincadeira de qualidade. A solução pode consistir em dar uns passos atrás, “dar-lhes tempo e liberdade” e “simplificar um pouco as coisas”, sensibilizando os pais e a escola.

Isto poderá significar reduzir as atividades extracurriculares (que colocam, muitas vezes, uma pesada carga na rotina das crianças), menos trabalhos de casa e mais tempo de recreio. Maria de Vasconcelos lembra a infância das filhas recheada de brincadeiras, mas reconhece que nas circunstâncias atuais “há pouco tempo para tudo e há pouco tempo para brincar com os filhos”.

“Atualmente, há a tendência para que as crianças frequentem cada vez mais atividades extracurriculares, seja para fazer face aos horários de trabalho mais alargados dos pais ou porque estes, querendo o melhor para os seus filhos, acreditam que estas lhes darão mais ferramentas para o futuro”, diz Andreia Araújo. Somam-se os trabalhos que seguem da escola para casa e que ocupam o resto do serão, antes da hora de dormir.

E há ainda a redução dos tempos de recreio: “Nas próprias escolas, os tempos médios de recreio são cada vez mais curtos, com uma média assustadora de 26,9 minutos por dia”, destaca a pedopsiquiatra.

O problema do tempo estende-se aos pais: “Não há tempo para dar liberdade. Os horários de trabalho que vivemos em Portugal são inimigos de uma família e de um crescimento saudável”, considera Catarina Beato. “Não é possível que alguém que entre às nove da manhã e que saia às sete da tarde tenha tempo para brincar com os filhos”, destaca, sublinhando que, no momento de ir buscar as crianças, elas já estão exaustas. E provavelmente não é devido às brincadeiras livres.

A dinâmica familiar de Catarina Beato mudou há pouco tempo, precisamente para dar resposta a esta necessidade: reduziu a sua carga de trabalho e Pedro, o marido, tornou-se trabalhador independente para conseguir mais agilidade na rotina. Afinal, o tempo dos miúdos depende da disponibilidade dos pais.

Adversidade ao risco

Apesar de Carlota ainda estar a descobrir como equilibrar corretamente o corpo, João Santos quer que a bebé tenha liberdade nos movimentos. “Não gostamos de estar – ou que estejam – sempre a amparar-lhe as quedas”, explica. “Queremos que se mexa à vontade. Da altura a que ela cai, não vai acontecer nada de mal.”

David, filho do meio de Lilian Fraga, era um miúdo “que não gostava de estar preso” – era daqueles miúdos reguilas, com bicho-carpinteiro, que gostava de estar “nos limites”. Por este motivo, na escola era o único que tinha autorização para subir a uma árvore que lá existia. “Para ele, aquilo era uma coisa incontrolável”, conta. “Tive de pedir à diretora para o deixar subir à árvore. Mais ninguém podia.”

Estas são posições contrárias à tendência. “Vivemos numa sociedade adversa ao risco”, frisa Carlos Neto. “Os pais, os educadores e a comunidade em geral, veem o brincar como algo perigoso.” O hábito de proteger demasiado tem consequências: “Os pais e os adultos devem compreender que as brincadeiras arriscadas são fundamentais no desenvolvimento da criança.”

Até porque as crianças que correm riscos são mais seguras, capazes de resolver problemas e enfrentar a adversidade. “Afinal, uma criança com os joelhos esfolados é uma criança saudável”, afirma Carlos Neto: “Saber errar, saber cair, saber esfolar os joelhos, é um sintoma de saúde.”

“Quando a criança não brinca ou deixa de brincar é sinal de que está doente”

Andreia Araújo, pedopsiquiatra

O tabu da tecnologia

Quando aos seis meses começaram a ser introduzidos alimentos na dieta de Carlota, o pediatra fez um apelo: “Só vos peço uma coisa: não mostrem os telemóveis e tablets quando ela está a começar a criar uma relação com a comida. Assim, ela só vai comer a ver o telemóvel e não cria ligação com o que está a comer.”

Deixamos para o fim o mais controverso entrave à brincadeira de qualidade: os ecrãs. Os alertas já soaram globalmente – tanto que, em 2019, nas diretrizes sobre atividade física, comportamento sedentário e sono para crianças menores de 5 anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou que, até fazerem 2 anos, as crianças não fossem expostas aos ecrãs. A partir daí, e até atingirem os 5 anos, o tempo não deve exceder os 60 minutos.

“O tempo para a brincadeira livre diminuiu consideravelmente com a utilização destes dispositivos”, afirma Carlos Neto. “Hoje, quando se entra na escola, as crianças estão sentadas, quietas e caladas, com muitas restrições à sua movimentação livre.”

A utilização das tecnologias pode ser uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que introduz novas formas de aprendizagem, de acesso à informação, de aquisição de conhecimentos, de comunicação e de lazer, encerra também uma componente de satisfação imediata e, por isso, com potencial aditivo. Deste modo, é frequentemente a ferramenta mais fácil para “sossegar” os bebés e as crianças.

“Os ecrãs, pela sua luz, som e movimento, tornam-se extremamente atrativos e estimulantes, ‘agarrando’ as crianças, que ficam sossegadas – o que pode ser vantajoso para os adultos que precisam de se organizar nas tarefas diárias”, salienta Andreia Araújo.

As novas gerações de crianças são, para Carlos Neto, “filhos” e “reféns” dos telemóveis. O “bombardeamento” de sensações a que são expostas com o digital traduz-se na redução de outras experiências fundamentais para o corpo, para a mente, para o amadurecimento emocional e social. “Estão absorvidas pelos ecrãs que têm, obviamente, narrativas muito poderosas”, refere o investigador. “Estão sintonizadas com o mundo, mas completamente sós e completamente em solidão.”

Quer afastar o seu filho dos ecrãs? Faça esta Experiência

Não é fácil afastar os ecrãs da vida das crianças. O ritmo de vida dos pais, cada vez mais frenético, e as pressões dos pares são ímanes para os tablets, os telemóveis e a televisão. João Barreto, Associado Montepio desde o início dos anos 2000, combate este vício com programas alternativos para a filha, Maria Inês. “Brinco com ela e combino atividades com os amigos. Vamos ao Oceanário [de Lisboa], ao Jardim Zoológico, ao Pavilhão do Conhecimento. São coisas de que ela gosta”, explica o engenheiro civil de 44 anos. Todos os fins de semana, João puxa Inês para fora de casa. “Há dias em que até conseguimos que ela não veja televisão, o que é excelente. E dorme muito melhor, não tem comparação”, garante.

Outra das estratégias para afastar os olhos de Inês, de 8 anos, dos ecrãs, é inscrevê-la nas Experiências Montepio concebidas para a sua idade. “O Montepio Associação Mutualista organiza atividades que considero interessantes para a idade dela, por isso aproveito sempre um bocadinho”, afirma João Barreto. “Tento conciliar os horários para ela não estar sempre em casa. E as Experiências Montepio são um pouco diferentes dos programas habituais. De ir ao parque, por exemplo.”

Maria Inês tem aulas de teatro musical e admira o encenador Filipe La Féria. Por isso, é habitual vê-la nas peças do Politeama. “Na última vez, tirou uma fotografia com ele. E também conseguiu o autógrafo da atriz que fazia de Pequena Sereia e ficou toda contente”, recorda o pai. Além das idas regulares ao teatro, estes associados Montepio têm participado em várias Experiências Montepio. “Fomos ver o Principezinho, fomos ao convento de Mafra, às experiências à noite com luz e laser, aos museus, como o MAAT, e costumamos ir às ante-estreias dos filmes infantis”, explica João Barreto.

Associado Montepio por tradição familiar, o engenheiro civil acredita que quanto mais cedo se começarem a fazer atividades com as crianças que não envolvam os ecrãs, mais recetivas estão a estes estímulos externos. “A partir de uma certa idade é impossível que eles mudem os hábitos. Ando sempre com uma mochila com lápis de cor, canetas e desenhos e papel para ela se entreter, em vez de estar sempre agarrada ao telemóvel”, afirma. E conclui com um exemplo da tirania dos ecrãs na vida dos mais jovens. “Por vezes, combinamos um jantar com os miúdos e está tudo com os telemóveis. As pessoas tendem a trabalhar cada vez mais e ‘negligenciam’ um pouco os filhos, que ficam a ser criados pelo Estado ou pela televisão. Não vai dar bom resultado. Com a nossa filha tentamos evitar ao máximo que ela abuse muito.”

Mathilde e Mannon tiveram uma infância de brincadeiras, mas Maria de Vasconcelos reconhece que hoje há pouco tempo para tudo, incluindo para brincar com os filhos

É possível tornar a tecnologia num aliado? Sim e não

Para Catarina Beato, as tecnologias são parte integrante da família. “Para mim, as crianças não se criam em bolhas”, afirma. “O telemóvel é um objeto que, estando tanto tempo nas minhas mãos, vai criar curiosidade aos meus filhos. Podem mexer? Claro que sim. Até porque é importante que, desde cedo, ganhem literacia digital.”

Os telemóveis e tablets são, por isso, fonte de brincadeira para os seus filhos: “A Maria Luiza desenha muito bem e desenha à vista. Vê imagens no telemóvel, faz pause e tenta desenhar o que está a ver”, explica. “A Mariana adora pôr músicas — depois vai brincar enquanto a canção toca.” Foi com a Internet que o filho Afonso aprendeu a dominar o inglês. Com os dispositivos móveis, esta família promove atividades conjuntas: veem e partilham publicações das redes sociais, que acabam por “gerar conversa”.

Maria de Vasconcelos admite que o tempo que se passa frente ao ecrã é excessivo, mas concorda que esta é uma dimensão que não pode ser abolida da vida dos miúdos. Pode até ser uma ferramenta para adquirir conhecimento de uma forma lúdica. Foi precisamente com o intuito de ensinar através da diversão que criou o seu projeto. As Canções da Maria surgiram em 2012, quando começou a cantar a matéria da escola às filhas:

“Quando se canta a matéria parece que se está a brincar. Parece que não me custa nada”, explica. Mas porquê? “Nós temos dois hemisférios cerebrais, o esquerdo e o direito. O esquerdo é o da lógica, da aritmética, da racionalidade. E o direito é o lado emocional, mais ligado às artes. Quando juntamos os dois lados, a memorização e a aprendizagem funcionam muito melhor. Normalmente não nos esquecemos do que aprendemos a cantar.”

O quarto trabalho da cantora vai focar-se no corpo humano e traz novidades: o DVD que habitualmente vinha com o CD será substituído por um QRCode. “Vai encaminhar para uma aplicação que, depois de descarregada, dá acesso a todos os vídeos de As Canções da Maria”, explica. “Temos que usar as plataformas a nosso favor e transformá-las em ferramentas úteis. As plataformas digitais podem ser espetaculares, com jogos, com opções que nos permitem aprender ou divertir”, afirma.

A participação em Experiências Montepio foi uma das soluções que os pais de Rodrigo encontraram para o tirar de casa e, assim, ficar longe dos ecrãs. Mas, mesmo dentro de quatro paredes, a maioria das alternativas não inclui tablets, telemóveis ou televisão. “Tentamos retirar a televisão da sua vida e distraí-lo com outras coisas. A televisão, aliás, foi a última coisa que lhe apresentei, já bastante tarde”, afirma Ana Rita Matos, uma educadora de infância que está, atualmente, a trabalhar como consultora informática.

Até quando conseguirão fazê-lo? “O mais tarde possível”, responde a mãe com uma gargalhada, admitindo que não será possível manter esta distância para sempre. “Não conseguimos controlar as regras na creche ou em casa das avós, mas ainda conseguimos fazê-lo em casa.”

No final da conversa com a revista Montepio, Ana Rita Matos deixou um desabafo em forma de confissão. “Eu gosto muito de ver televisão. Quando era pequena, levantava-me, fazia o meu pequeno-almoço e ficava a ver televisão até os meus pais acordarem. E às vezes penso: se calhar tenho de ensinar o meu filho a fazer o mesmo porque podia dormir de manhã [risos].”

O que mudou no entretenimento infantil nos últimos 20 anos?

João Fernandes começou a participar nas Experiências Montepio muito antes de nascerem os filhos mais novos, atualmente com 1 e seis anos de idade. Com o decorrer dos anos, o bichinho pelas aventuras e propostas de conhecimento, educação e cultura do Montepio Associação Mutualista passou para o resto da família e, hoje, a família de quatro já não vive sem elas. “Só nos últimos meses participámos em dois chás, nos hotéis Estoril Palace e The Oitavos, e visitámos um forte na zona do Guincho”, explica o gestor internacional de risco de crédito, de 50 anos.

Na família Fernandes, todos são associados. Por isso, a presença nas Experiências Montepio é regular e uma fonte de poupança. “O Mateus tem 17 meses e ainda é muito pequeno para ir a alguns eventos. Por isso, fico com ele em casa enquanto a mãe leva a Maria aos teatros ou às ante-estreias do cinema”, explica o Associado.

Além das vantagens educativas e culturais, João Fernandes sabe que no Teatro Infantil de Lisboa (TIL), no Teatro Politeama ou nos cinemas não há distrações LED. “Estou a tentar alterar o padrão de utilização de telemóveis ou tablets. Na viagem para a Experiência, durante ou no regresso a casa não há ecrãs”, garante.

Mas há outras estratégias para combater o vício. “Fazemos trabalhos manuais em casa, marcamos jantares para os miúdos estarem juntos”, exemplifica. Com duas filhas mais velhas, de 26 e 22 anos, o Associado Montepio admite que, em 20 anos, a relação das crianças com os ecrãs mudou muito. “É tudo diferente. Na altura já tinha telemóvel, mas hoje é tudo mais intenso”, refere. “As minhas filhas só começaram a mexer em telemóveis aos 10 ou 12 anos e [com os mais pequenos] vou tentar atrasar o máximo possível.” Para já, o Associado Montepio está no bom caminho.

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