8 conselhos para lidar com a ansiedade financeira

8 conselhos para lidar com a ansiedade financeira
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ão é nome de doença, mas os efeitos da ansiedade financeira fazem-se sentir na vida das pessoas.
Saiba como manter-se saudável quando os efeitos da inflação ou do aumento da mensalidade do crédito à habitação ameaçam a sua saúde mental.

É um lugar-comum dizer que o dinheiro manda no mundo, mas não há como fugir a esta lapalissada. O vil metal, como também é conhecido, controla parte daquilo que somos, influenciando decisões, gerindo as relações com os outros e moldando o nosso dia a dia. Por vezes, mexe com a saúde, criando situações de ansiedade que, se não forem tratadas, podem ter consequências nefastas para a nossa vida.

Seja pelo contexto atual, em que a inflação e o aumento dos juros encolhem os rendimentos e geram medo quanto ao futuro, seja por questões pessoais, como uma mudança de emprego, o facto é que há situações na vida que podem desencadear estados de ansiedade financeira.

Para ajudar a identificá-la e dar-lhe estratégias de prevenção, falámos com a psiquiatra Maria Antónia Frasquilho e com duas pessoas que viveram estados de ansiedade financeira — e conseguiram ultrapassá-los.

8 dicas para lidar com a ansiedade financeira

1. Aprenda a identificar o que sente

Tensão alta, respiração acelerada ou vontade frequente de ir à casa de banho. Reconhece estes sintomas? Todos já sentimos reações como estas em algum ponto da vida, porque são respostas normais a um contexto de ansiedade. Aliás, como explica a psiquiatra Maria Antónia Frasquilho, a ansiedade até pode ser uma emoção útil, que nos dá “o alerta laranja de que temos de fazer adaptações na nossa vida”. No entanto, é preciso estar atento quando o alerta passa de laranja a vermelho. “A ansiedade normal e útil pode transformar-se — quer seja pela intensidade (ser mais forte) ou pela duração (estar presente muito tempo) — num sofrimento nítido para a pessoa ou incapacitá-la no dia a dia”, explica a diretora clínica da Clínica Alterstatus. Nessa altura, a “ansiedade torna-se doença, perturbação”.

Focando-nos na ansiedade financeira, que não é o nome de uma doença mas de uma condição que se relaciona, em específico, com a gestão e uso do dinheiro, o que acontece é que a pessoa “sente-se mal, insegura, numa tensão extrema ou permanente com questões financeiras”. A psiquiatra explica por outras palavras: “Não sendo uma categoria de doença, é a doença ansiedade em foco, que é expressa — digamos assim — com as vestes de questões financeiras.” E por mais incrível que possa parecer, este tipo de ansiedade nem sempre é sinónimo de ausência de capacidade financeira.

No caso de Pedro Ferreirinha, arquiteto de 40 anos, os momentos de ansiedade financeira ocorreram quando a namorada, após o nascimento da primeira filha de ambos, conseguiu vaga num curso superior que lhe poderia mudar o rumo profissional. O risco que assumiram foi grande: usaram as poupanças para pagar a formação e, durante um ano, viveram apenas com o salário de Pedro.

O stress era tanto que, mal começava a fazer contas, Pedro sentia logo alterações no couro cabeludo. Também notou apertos no peito que o perturbavam. “Era um bocadinho constrangedor para mim, uma situação pela qual nunca tinha passado.”

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2. Esteja atento aos sinais de alerta

As pessoas que experienciam ansiedade observam repercussões em várias facetas da vida. De acordo com Maria Antónia Frasquilho, a nível pessoal podem sentir-se num sofrimento cada vez maior e reforçar sentimentos de falta de eficácia e de autoestima. Por exemplo, se estão ansiosas por causa de um investimento ruinoso, isso pode ser suficiente para as conduzir “a um estado de desvalorização e de autopunição”, salienta.

A pessoa ansiosa pode ainda começar a vivenciar a ansiedade de um modo negativo — “com uma tensão extrema e irritabilidade” —, desligando-se dos outros aspetos da vida e deixando de ser eficaz como trabalhador ou até como progenitor.

Podem ainda verificar-se situações mais delicadas, como a entrada em estados depressivos e melancólicos; o desenvolvimento de um medo obsessivo de gastar dinheiro ou — por incrível que pareça — a pessoa “realizar gastos exagerados ou absurdos”. Neste caso, a pessoa acredita que, ao gastar dinheiro e fazer compras de conforto, irá sentir-se melhor, exemplifica a médica. Em casos mais extremos, há doentes que começam a apostar no casino na esperança de recuperar o dinheiro, aquilo a que chamamos “pensamento mágico”. Finalmente, há sempre o perigo de se recorrer ao consumo de álcool e drogas como escape, bem como o risco de automedicação.

3. Modere a exposição às notícias… mas não as evite de todo

Apesar de haver situações clínicas em que as pessoas desenvolvem ansiedade financeira mesmo na ausência de problemas económicos, o mais comum, reconhece Maria Antónia Frasquilho, é sofrer-se de ansiedade financeira quando se é confrontado com um problema real.

Por isso, contextos como o atual, com a inflação, o aumento do custo de vida e a subida dos juros a obrigarem as famílias a ajustar-se, podem ser o suficiente para desencadear estados de ansiedade financeira. Assim, a primeira atitude a tomar é proteger-se do excesso de informação, recuperando a calma. “A pessoa deve expor-se o menos possível a alarmismos, porque o futuro ninguém adivinha e temos de viver o dia de hoje”, lembra a médica.

No entanto, ignorar o ciclo noticioso e as mudanças que podem afetar as finanças no futuro também não é solução, aconselha Maria Antónia Frasquilho. “Isso não nos permite tomar decisões em relação a algo que teremos de enfrentar.”

“É importante perceber que sozinhos não resolvemos estes problemas — muitas vezes os traumas provocam modos de reagir, crenças e até ativações corporais em que basta a lembrança de uma situação traumática para provocar ansiedade.”

Maria Antónia Frasquilho, psiquiatra

4. Identifique a causa da ansiedade

Depois de se proteger de um contexto que desencadeia mal-estar, é altura de analisar a razão concreta pela qual está ansioso e agir em conformidade.

No caso de Pedro Ferreirinha, a causa da ansiedade era bem identificável — a família tinha prescindido de um salário e investido as poupanças num curso superior. Face a essa preocupação, o primeiro passo de Pedro foi apontar e sistematizar todas as despesas da família. Bastou este gesto para lhe trazer algum alívio. “A incerteza deixava-me aflito. A bem ou a mal já não ia ser apanhado desprevenido no mês seguinte.”

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5. Pondere pedir ajuda a um especialista em finanças pessoais

Apostar na literacia financeira — ou pedir conselhos a quem sabe — é o primeiro passo a dar quando a ansiedade financeira é motivada por um problema concreto. Se está preocupado com o pagamento de um empréstimo, por exemplo, peça ajuda ao seu banco. “Não se envergonhe e faça um plano a duas, a quatro ou a seis mãos”, sugere a psiquiatra.

Para Filipa Araújo, uma das soluções para sair da situação de ansiedade que a paralisava foi contratar um consultor que a ajudasse a traçar um plano. “Sentia que não tinha qualquer educação financeira”, confessa a assessora de comunicação de 36 anos. Além da elaboração de uma tabela onde anotou os seus gastos e rendimentos mensais, a ajuda centrou-se em traçar cenários possíveis no futuro. Por exemplo, o que aconteceria se ficasse sem emprego (um dos seus medos)?

Se, como Filipa, sente que a sua literacia financeira é insuficiente para resolver os problemas do dia a dia, como perceber como poupar no IRS, navegar por dentro das burocracias da Segurança Social ou das Finanças, o blog Educação e Informação Financeira, do Montepio Associação Mutualista, pode ser a resposta a esta inquietação. Lançado em 2012, com mais de 3000 artigos publicados e 50 milhões de visualizações, o Ei ajuda os portugueses a gerirem melhor o seu dinheiro através de conteúdos diários no site e no Facebook. Assine ainda a newsletter mensal e fique a par de tudo o que tem impacto na sua carteira no presente e no futuro.

6. Trace um plano financeiro, mas reserve tempo para cuidar de si

Munido do mapa financeiro, Pedro Ferreirinha percebeu que a família precisava de mais dinheiro ao fim do mês. Isto traduziu-se, por um lado, na necessidade de obter um rendimento extra. Por outro, no imperativo de reduzir as despesas. Para o primeiro caso, Pedro perdeu a vergonha de pedir o aumento de salário que considerava que lhe era devido há algum tempo. E conseguiu-o. Arranjou ainda um emprego em part-time, que adicionou ao trabalho a tempo inteiro.

Quanto às despesas, Pedro e Joana, a namorada, passaram a controlar tudo o que gastavam. Uma solução que, reconhece o arquiteto, acarreta riscos para o casal: “Sem querer, também começamos a ter controlo sobre a outra pessoa. Por exemplo, se a Joana comprasse uma prenda eu saberia”, relata. Ainda assim, esta situação não lhes criou problemas. “Conseguimos que não nos deixasse constrangidos.”

Reconhecendo as vantagens deste tipo de planificação das finanças pessoais que, aliás, também é sugerida pelos profissionais de saúde aos doentes, Maria Antónia Frasquilho lembra que, mesmo imersas nas contas, as pessoas não devem esquecer-se de uma rubrica essencial: o investimento no autocuidado. “Uma pessoa que está em sofrimento e que, por vezes, se ‘maltrata’ tanto precisa de tempo para o seu bem-estar, nem que sejam cinco minutos a descomprimir”, aconselha a médica.

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7. Se necessário, peça ajuda a um especialista em saúde mental

A ansiedade financeira tem várias caras. Por vezes, está relacionada com traumas passados (pobreza ou dívidas). Consultar um profissional de saúde mental, como um psiquiatra ou um psicólogo, pode ser o caminho a seguir. E, apesar de potencialmente doloroso, este é um passo necessário. “É importante perceber que sozinhos não resolvemos estes problemas — muitas vezes os traumas provocam modos de reagir, crenças e até ativações corporais em que basta a lembrança de uma situação traumática para provocar ansiedade”, explica a médica.

No caso de Filipa Araújo, a ansiedade financeira revestia-se de um medo desmesurado de passar por necessidades, explicado, em parte, pelo seu passado. “Era adolescente e a crise bateu forte em minha casa”, relata a assessora de comunicação. Face à situação da família, Filipa teve de suspender os estudos e procurar emprego. Por necessidade, trabalhou e estudou até concluir os estudos universitários, que a levaram, anos mais tarde, a Macau. Foi nesta região autónoma da China que finalmente conquistou uma situação financeira confortável. O fantasma da crise, no entanto, não passava: “Quis deixar Macau, mas não o fazia por medo. Arrastei a mudança de emprego durante três anos.”

Como faz terapia há alguns anos e estuda psicologia, Filipa sabia que tinha acesso à ajuda especializada de que precisava para lidar com a parte psicológica da ansiedade. O apoio do consultor financeiro resolveu a outra metade da equação e a assessora de comunicação conseguiu desbloquear a inércia que a ansiedade lhe provocava, regressando finalmente a Portugal.

8. Lembre-se que nada é para sempre

Os especialistas em saúde mental podem ajudá-lo a perceber a linguagem do seu corpo e a dotar-se de ferramentas para reagir. Além da abordagem psicoterapêutica e da possibilidade da toma de medicação, há estratégias de acalmia que as pessoas podem aprender: exercícios de respiração e relaxamento. Para Maria Antónia Frasquilho, a possibilidade de agir sobre a realidade deve, por isso, ser vista como empoderadora.

“Uma vez que somos responsáveis, em grande medida, pela maneira como se finaliza o trajeto, a boa notícia é que temos a possibilidade de ter ações positivas”, diz a médica. Aliás, além de podermos controlar o modo como reagimos, convém lembrar que nada é permanente. “Nem mesmo as maiores calamidades”, conclui.

Veja-se, como exemplo desta máxima, o caso de Pedro e Joana. Depois de vários meses marcados pela falta de descanso devido à combinação de excesso de trabalho com a exigência de um bebé pequeno, o sacrifício deu frutos. Após concluir o curso, Joana mudou para uma área profissional que lhe trouxe uma situação financeira mais confortável. Por isso, resume Pedro, o saldo foi positivo. “Foi uma loucura, mas pesando os prós e os contras valeu a pena — se voltasse atrás faria o mesmo.”

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