D. Ximenes Belo: “A paz exige um trabalho contínuo”

A propósito da comemoração do centenário de Mandela, o Ei conversou, em exclusivo, com o Bispo D. Ximenes Belo. O Nobel da Paz recordou o encontro que teve com o líder sul-africano e a importância de colocar em prática os seus ensinamentos.
Artigo atualizado a 17-07-2018

Inúmeras figuras de relevo, algumas que tiveram a oportunidade de conhecer Nelson Mandela, marcam presença nestes eventos. Numa destas ocasiões, um seminário onde convidados nacionais e internacionais partilharam experiências de pós-conflito, o Ei teve a oportunidade de conversar com D. Ximenes Belo, o Bispo timorense que em 1996 foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz – juntamente com José Ramos Horta -, pelo trabalho desenvolvido na procura de uma solução justa e pacífica do conflito em Timor-Leste.

Ximenes Belo recordou que ainda estamos longe de alcançar a paz no mundo e que, para lá chegar, é necessário um trabalho profundo de educação dos jovens. Aos mais novos, o Bispo aconselha a leitura dos livros de Nelson Mandela, para conhecer as suas recomendações e pôr em prática os seus ensinamentos.

Este ano, um pouco por todo o mundo, há celebrações do centenário de Nelson Mandela. Qual é a importância de não esquecermos Nelson Mandela?

Nelson Mandela teve um grande papel na reconciliação na Africa do Sul e em certas partes do mundo. Devemos, em primeiro lugar, admirá-lo pela sua perseverança e capacidade de sofrimento. Depois devemos trabalhar para que haja reconciliação, tolerância e diálogo entre os homens.

Quais são as principais lições que Nelson Mandela trouxe ao mundo?

Esquecer os ódios, as violências e, sobretudo, abrir os corações e as mentes, para trabalhar para a construção de paz.

Já teve oportunidade de privar com Nelson Mandela. O que recorda desses momentos?

Era uma pessoa muito afável, generosa, alegre e compreensiva com os problemas. Por exemplo, quando o conheci, ele estava a par de todos os problemas de Timor Leste e apelava para que houvesse mais diálogo e compreensão entre nós e a Indonésia.

Alguma história que o tenha marcado?

Foi um encontro breve. Aquilo que me recordo é que, quando saímos da sala, ele revelou aos jornalistas que a África do Sul se ia candidatar à organização do Mundial de futebol. O que veio a realizar-se em 2010.

Passaram 22 anos desde que ganhou o prémio Nobel. O que mudou no mundo desde então?

Praticamente não mudou nada. Todos os anos ouvimos falar de novos conflitos, a questão dos refugiados, dos Rohingyas na Birmânia, a Crimeia, Sudão do Sul, Siria… Nós trabalhamos pela paz e há uma instituição, que é o Nobel da Paz, mas a paz exige um trabalho contínuo.

Acredita que um dia poderemos viver num mundo sem conflitos, violência e guerra?

Enquanto houver pecadores nunca haverá paz. A paz começa connosco próprios, por isso, vamos trabalhar para isso, não cruzar os braços.

Que trabalho deve ser feito alcançar a paz?

Educar a juventude, educar as forças armadas e os bons diplomatas para esse trabalho de paz.

Que mensagem gostaria de deixar aos jovens?

Leiam livros sobre Nelson Mandela, fiquem a conhecê-lo e as recomendações que ele deixa. Ele teve uma vida formidável. Se possível pôr em prática os seus ensinamentos.

 

 

 

Ler mais

Os conteúdos do blogue Ei – Educação e Informação não dispensam a consulta da respetiva informação legal e não configuram qualquer recomendação.

Este artigo foi útil?

Se ficou com dúvidas ou tem uma opinião que deseja partilhar, preencha o formulário abaixo para entrar em contacto connosco.

Torne-se Associado

Saiba mais