Melissa Mesa: “A espiritualidade é fundamental para dar sentido à vida”

Melissa Gómez Mesa, oradora da conferência que celebrou o centenário do nascimento de Mandela, acompanha processos de ensino de Espiritualidade, Ética, Equidade, Paz e Reconciliação na região de Antioquia, na Colômbia, e noutras partes do país afetadas pelo conflito interno.
Artigo atualizado a 24-07-2018

Entrevista Melissa Mesa

Qual a importância de recordarmos e, principalmente, de não esquecermos Nelson Mandela?

É muito importante recordar Mandela pela sua capacidade de reconhecer todos os seres humanos. Os conflitos estão muitas vezes relacionados com o não reconhecimento de uma ou de algumas partes. Mas Nelson Mandela ensinou-nos que é possível resolvê-los de um modo pacífico e que, mesmo nos momentos mais difíceis, é possível encontrar as luzes necessárias para nos conectarmos com o outro, para construirmos pontes e vivermos numa sociedade em paz.

Como é que o legado de Nelson Mandela pode inspirar os líderes de países que iniciaram processos de reconciliação?

Há dois ensinamentos de Nelson Mandela que considero muito importantes. O primeiro, de carácter pessoal e que pode ser útil para todos os seres humanos, é a sua capacidade de reflexão, de parar e de optar por um bem maior. E qual é esse bem maior? É entrar em confronto? É pôr-se de um lado ou do outro? Não. Nelson Mandela escolheu não legitimar nem um, nem o outro lado, mas sim proporcionar o encontro. O segundo é a sua capacidade de liderança. Se os líderes mundiais, em especial os líderes dos países que ainda estão em conflito, estudassem os exemplos de Nelson Mandela, iriam encontrar caminhos para o desenvolvimento das suas comunidades.

Que trabalho está a ser feito na Colômbia para essa reconciliação e, no fundo, para alcançar a paz?

Em primeiro lugar é preciso proporcionar o ambiente adequado para os acordos de paz. A Colômbia tem agora a possibilidade de criar um ambiente com menos tensão para construir as estruturas sociais, políticas e educativas necessárias e para dar uma vida digna às pessoas.
Devemos possibilitar momentos de encontro e ajudar a aumentar a confiança entre os colombianos, porque há medo, há temor e há ódios de uma guerra dura e que deixou muita dor.

Qual o papel dos colombianos na luta por essa mudança? Sente-se essa vontade?

É difícil. No dia 17 de junho, Iván Duque venceu a segunda volta das eleições na Colômbia e, desde aí, parece que o país está dividido em duas partes: uma que defende e que deseja os Acordos de Paz e outra que tem as suas dúvidas, que quer fazer algumas reformas estruturais e que está a abrandar o processo. É aqui que temos de insistir e tentar perceber o porquê dessas dúvidas. Não acho que estejamos perante um cenário de confrontação, mas é difícil. A guerra deixou muita mágoa.

Como é que a espiritualidade pode ajudar as pessoas que vivem em países em conflito?

A espiritualidade é fundamental. Quando falamos em espiritualidade não estamos a falar em religião, são coisas diferentes. A espiritualidade é universal, é a capacidade que o ser humano tem de se conectar com a própria vida e de reconhecer que o outro é igualmente digno. E nesse sentido é muito importante para os colombianos.
O que se passa é que nós, os colombianos, perdemos o valor da vida, porque permitimos muitos atos bárbaros. Mas a espiritualidade permite voltar à essência e à grandeza de viver, à gratidão de partilhar este espaço com outros. A espiritualidade dá sentido à vida e é fundamental para nos ajudar a nos encontrarmos como seres humanos.

Essa ideia, de que ninguém é superior a ninguém, também era muito defendida por Nelson Mandela…

Exatamente. Há uma lição de Nelson Mandela de que gosto muito: a capacidade de entender que o outro tem sempre algo positivo para enriquecer a vida.

Quais são as principais lições que Mandela deixou para a humanidade?

Há duas lições que considero importantes. A primeira é que Nelson Mandela ensinou-nos em que momentos devemos tomar decisões e liderar, mas também em que momentos devemos fazer silêncio e permitir que sejam os outros a tomar decisões.

Em segundo, a coragem – apesar do medo, é preciso ter coragem para ir mais além e tentar. Nelson Mandela foi um construtor de pontes e, na verdade, é para isso que aqui estamos. Não há necessidade de mais conquistas, há necessidade de viver.

Vivemos tempos complexos, com países em conflitos e pouca ou nenhuma confiança dos líderes políticos. O mundo precisa de outro Mandela?

Sim, de muitos outros Nelson Mandela. E acho que todos o podemos ser. Todos os seres humanos, desde que deem o melhor de si e que tomem decisões para o benefício de todos, podem ser como Nelson Mandela. Acredito que hoje em dia não precisamos apenas de líderes políticos, mas também de líderes espirituais que nos ajudem a conectar com o essencial da vida.

 

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