Prémio Voluntariado Jovem Montepio: um dia no bairro da Serafina

Jovens voluntários ficaram a conhecer os cantos à casa no Bairro da Serafina/Liberdade. A ideia é criar um projeto de intervenção social. O melhor vence a 7.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio.
Artigo atualizado a 17-06-2021

Um dos educadores do Centro Social do Soutelo, Gondomar, um dos grupos participantes, cresceu próximo de bairros sociais do Porto e trabalha com jovens. Na Serafina, Hélder Nogueira aproximou-se de dois habitantes – o dono de um café e um amigo – e recolheu as suas experiências.

“Sou o dono do café aqui em frente, moro num sítio mais perigoso do que este, o Bairro da Boavista, mas se vou a uma entrevista de emprego não posso dar a minha morada verdadeira. Se o faço sou catalogado e o mesmo acontece com muitos outros jovens.” O amigo acredita que as intervenções só podem ser realizadas com um trabalho de fundo, em que as pessoas que pretendem ajudar habitem os locais para estreitar laços com a comunidade.

Vanessa, uma jovem do Bairro do Pendão, em Queluz, que durante este trabalho de campo acompanhou o grupo de voluntários do Soutelo, intervém na conversa para sublinhar que podemos sempre ser diferentes e temos que nos afastar das más influências. Depois de ter estado internada num Centro Educativo, está decidida a seguir um rumo positivo e diz que até já tirou o curso de auxiliar de saúde.

Um bairro que é um refúgio

“Sempre gostei muito do bairro, está muito perto do centro da cidade, tem espaços verdes e sempre brinquei na rua. É um refúgio na cidade”, diz Rafael, que serve de guia no percurso por ruas tantas vezes escondidas de olhares exteriores.

O rapaz de 24 anos, que acompanhou o grupo de voluntários da Associação de Proteção à Infância Bispo D. António Barroso, no Porto, explica que os pais cresceram no Bairro da Serafina e que tinham o sonho de morar na melhor zona das “vivendas”. E assim aconteceu, quando Rafael tinha seis anos. O jovem diz que percorre todas as zonas sem receios porque todos o conhecem.

O senhor José, de chapéu de palha e com 75 anos, entretém-se a plantar alfaces e a melhorar o aspeto dos terrenos situados junto a uma espécie de porta de entrada para o bairro, com a bandeira de Portugal no cimo, prédios devolutos com portas e janelas entaipadas mesmo ao lado. “Nasci aqui. As ruas são muito mais silenciosas do que na minha infância. Agora é um deserto”, explica aos jovens voluntários que vieram da Casa dos Rapazes, em Faro.

António Machado, 75 anos, também lamenta o “vazio” em que as ruas se tornaram e Guilhermina Rosa Gomes, com 82 anos, diz que o chão, todo esburacado a assusta porque como tem a locomoção limitada pode cair.

Outros mundos, outras visões

Na zona da Serafina existem blocos de apartamentos de habitação social que convivem lado a lado com ruas inteiras de casas pequenas e degradadas, muitas vezes construídas pelos próprios. As jovens meninas da Associação de Proteção à Infância D. António Barroso, no Porto, estão preocupadas com o que encontraram ao nível do saneamento, com muitas casas que nem sequer têm casa de banho: as pessoas recorrem aos balneários públicos, que abrem apenas alguns dias por semana.

“Será que somos capazes de aniquilar algum dos problemas que vamos encontrar?” O repto foi lançado pelo chefe dos escuteiros, António Chaves, que, para além de ser um dos organizadores da iniciativa, acompanhou o grupo de Faro no Bairro da Serafina/Liberdade.

“A rua é para ser vivida de uma forma positiva pelos habitantes? Podemos torná-la mais bonita? Que histórias encontramos, que memórias do passado podem ser guardadas no presente e no futuro? E o ambiente? O que podemos fazer por ele?”, questionou.

“A visita está a ser muito interessante para estes jovens que, em Faro, não têm acesso a este tipo de bairros. Estão a conviver com outros mundos e isso é importante para que entendam que existem problemas diferentes dos que vivem”, afirma Adelina Godinho, a coordenadora dos professores do apoio ao estudo da Casa dos Rapazes, na capital algarvia.

Uma jovem voluntária do Centro Social do Soutelo mostrou-se também surpreendida com o que encontrou no Bairro da Serafina. “Parece que estamos numa vila”, afirmou.

No final do dia, todos os voluntários partilharam experiências e juntaram ideias para elaborarem as suas propostas ao Prémio Voluntariado Jovem Montepio. No sábado, espera-os um dia em cheio.

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