Fazer o bem pode ser quantificado em euros?
Novo paradigma na economia social
Mudam-se os tempos, mudam-se as exigências no setor social. Atualmente, mais do que medir o resultado de uma intervenção social (o que se fez), é importante avaliar o impacto social dessa ação (o que mudou na vida e no bem-estar das pessoas por se ter agido) e partilhar as conclusões com os vários stakeholders (beneficiários diretos da intervenção, organização implementadora e seus parceiros e investidores). Só dessa forma as organizações com missão social poderão captar investimento que garanta a sua sustentabilidade e corrigir procedimentos e metodologias para dar uma melhor resposta aos problemas sociais.
Para ajudar as organizações sociais a percorrerem esse caminho de transformação, a Fundação Montepio e a CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia) lançaram, em 2013, o Programa Impacto Social. A ideia inicial era selecionar projetos sociais promissores e capacitar os responsáveis para demonstrar o seu potencial de impacto, através da metodologia SROI (Social Return on Investment). Esta moldura metodológica de capacitação permite compreender, medir e reportar o valor social produzido pela intervenção de uma organização. Como? Comparando o valor gerado pelas mudanças (benefícios) com a despesa necessária (investimento) para obtê-las. Por exemplo, um rácio SROI de 4:1 indica que cada euro investido produz quatro euros de valor social.
A esta ideia inicial juntou-se entretanto outra: criar uma comunidade para as organizações e as pessoas que desenvolvem projetos sociais se encontrarem e partilharem experiências. Nasceu assim a Comunidade Impacto Social, em substituição do anterior Programa Impacto Social.
A Comunidade Impacto Social – apoiada também pela 4Change e, desde 2017, pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – está ativa ao longo de todo ano. Em maio são dinamizados webinars e outros desafios em que as organizações são convidadas a participar, recebendo pontos. Com base nessa pontuação são selecionadas dez organizações para participarem num processo intensivo de capacitação (ISPrototipagem), que decorre entre setembro e novembro. O objetivo é ajudá-las a analisar o impacto social de um dos seus projetos sociais. Em dezembro, os resultados são apresentados pelas próprias organizações no Fórum Impacto Social, que concilia momentos em formato de conferência com momentos de workshops participativos. Este ano, o tema escolhido foi “Impacto e Políticas Públicas”. O Objetivo? Convencer o Governo a avaliar o impacto social dos serviços públicos, facilitando o trabalho das organizações sociais. Conheça os resultados das análises de impacto dos projetos sociais selecionados este ano, com base no Sumário ISPrototipagem 2017.
10 projetos sociais com valor
1. APDES (Projeto “GIRUGaia”)
A APDES, fundada em 2004, promove o desenvolvimento integrado de populações em situação de vulnerabilidade, melhorando o acesso à saúde, emprego e educação.
O projeto “GIRUGaia” surge como uma resposta multidisciplinar de proximidade que atua junto de pessoas que utilizam drogas em Vila Nova de Gaia. A equipa promove, desde 2003, práticas de consumo mais seguras e informadas, além de disponibilizar serviços promotores de saúde e inclusão e defender os direitos e necessidades das pessoas que utilizam drogas.
SROI:
4,72:1
Mudanças nos stakeholders:
• Utentes
– Diminuição de comportamentos de risco – Melhoria da saúde física
– Aumento dos níveis de autoestima
• Famílias dos utentes
– Diminuição do conflito familiar
– Maior equilíbrio funcional
• Parceiros das estruturas da rede formal dos cuidados de Saúde
– Aumento da capacidade de prevenção da doença
2. HELPO (Projeto “Futuro Maior”)
A Helpo intervém em Portugal, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau. Tem como missão promover o desenvolvimento destes países através da educação e da nutrição das crianças, estabelecendo relações de proximidade com os parceiros, beneficiários e financiadores.
“Futuro Maior” é um projeto de atribuição de bolsas de estudo a alunos e alunas do norte de Moçambique para a frequência do ensino secundário. Tem como objetivos combater o absentismo escolar por razões económicas, mediante a entrega de uniforme escolar, pagamento da matrícula e entrega do material escolar necessário.
SROI:
2,33:1
Mudanças nos stakeholders:
• Estudantes
– Melhoria da efetividade dos cuidados de saúde prestados
– Aumento das perspetivas de futuro
• Padrinhos e madrinhas (financiadores)
– Aumento do sentimento de civismo
– Aumento da realização pessoal
• Famílias
– Aumento da autoestima
– Aumento da coesão familiar
3. APSI (Projeto “Ruas do Bairro, Amigas da Criança”)
A Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) tem como missão melhorar a segurança infantil. Atua conciliando esforços sociais, políticos e empresariais para a redução do número e da gravidade dos acidentes e das suas consequências.
O projeto “Ruas do Bairro, Amigas da Criança”, cuja iniciativa central é o Pedibus, visa promover a mobilidade sustentável e modos de deslocação mais saudáveis da criança no seu trajeto entre a casa e a escola, procurando que as ruas sejam espaços mais adaptados e seguros para se andar a pé, envolvendo a vizinhança e a comunidade escolar.
SROI:
0,45:1
Mudanças nos stakeholders:
• Crianças
– Menos comportamentos/ hábitos sedentários
– Melhoria do relacionamento interpessoal
– Aumento da confiança em si própria (quando está/anda na rua)
• Encarregados de Educação
– Poupança de recursos. Aumento da rede de apoio familiar
• Voluntários
– Ganho de competências de gestão/dinamização de grupos
– Aumento do sentido de responsabilidade e compromisso
4. ARCIL (Projeto “Serviço de Apoio Domiciliário”)
Fundada em 1976, a Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã (ARCIL) acompanha pessoas com deficiência ou em situação de incapacidade ao longo das diferentes fases da sua vida.
O projeto “Serviço de Apoio Domiciliário” foi criado em 2004 para apoiar pessoas com deficiência, promovendo condições de vida que permitam a sua autonomização ou permanência junto da família, adiando assim a sua institucionalização.
SROI:
1,42:1
Mudanças nos stakeholders:
• Clientes
– Aumento do bem-estar emocional
– Melhor utilização dos serviços da comunidade
– Mais liberdade para fazer as próprias escolhas
• Família e cuidadores
– Maior sensação de segurança nos cuidados prestados
– Maior disponibilidade de tempo para dedicar a outros familiares
5. CADin (Projeto “Bolsa Social”)
O CADin foi criado para promover a inclusão plena na sociedade de crianças, jovens e adultos com perturbações do neurodesenvolvimento e outros problemas de saúde mental.
O projeto “Bolsa Social” é um fundo constituído por doações para comparticipar os custos da intervenção clínica e terapêutica a utentes com aquelas perturbações e em situação económica insuficiente.
SROI:
2,76:1
Mudanças nos stakeholders:
• Utentes
– Melhoria da qualidade da relação com os outros
– Aumento da capacidade para lidar com as suas dificuldades
– Aumento de competências funcionais, sociais e emocionais
• Famílias
– Aumento da confiança no futuro do utente
– Redução do sentimento de frustração
• Professores
– Maior facilidade de inclusão dos utentes nas dinâmicas escolares
– Maior compreensão do problema e possibilidades de solução
6. Cáritas Paroquial de Coruche (Projeto “Vê Se Atinas! Sala de Estudo”)
A Cáritas Paroquial de Coruche investe no combate a situações de pobreza e exclusão social identificadas na comunidade, através de serviços que dão suporte e potenciam competências nos indivíduos e nas famílias, tornando-os responsáveis.
O projeto “Vê se atinas! Sala de Estudo” foi criado para responder à necessidade de combater o insucesso e abandono escolar de jovens a partir do 2.º ciclo, no concelho de Coruche, numa perspetiva de integração social.
SROI:
3,22:1
Mudanças nos stakeholders:
• Utentes
– Aumento do sucesso escolar
– Aumento da autoestima
– Aumento da integração social
• Famílias
– Diminuição da ansiedade
– Aumento da qualidade da relação
• Escola
– Aumento do sucesso na obtenção dos seus objetivos
7. Fundação AFID (Projeto “Lar Residencial”)
A Fundação AFID desenvolve a sua ação na área do apoio social, dinamizando atividades e serviços junto de crianças, idosos e pessoas com deficiência.
O projeto “Lar Residencial” é uma resposta social destinada ao apoio social e residencial para os jovens e adultos com deficiência intelectual para os quais as suas famílias se encontrem impossibilitadas de lhes prestar os cuidados básicos.
SROI:
2,88:1
Mudanças nos stakeholders:
• Clientes
– Aumento do bem-estar físico
– Aumento do bem-estar emocional
– Mais respeito pelos direitos
• Famílias dos Clientes do Lar Residencial
– Maior satisfação pessoal
– Maior sentimento de segurança
• Famílias dos Clientes SOS
– Maior realização pessoal Maior tranquilidade e redução de stress
8. Centro Sagrada Família (Projeto “Famílias com Alma”)
O Centro Sagrada Família desenvolve atividades educativas de creche, pré-escolar e campo de férias. Realiza ainda formação profissional e apoio à comunidade.
O projeto “Famílias com Alma” presta apoio a famílias vulneráveis, atuando em quatro vetores de intervenção: alimentação, saúde, higiene e conforto, e educação, formação e emprego.
SROI:
0,6:1
Mudanças nos stakeholders:
• Beneficiários – Famílias
– Aumento do bem-estar familiar
– Aumento da coesão familiar
– Aumento da empregabilidade
• Voluntários
– Aumento da autoestima
– Aumento da motivação para a participação em novas atividades
• Equipa técnica
– Aumento das competências profissionais
– Aumento das competências pessoais
9. Centro Jovem Tabor (Projeto “Tabor Outdoor”)
O Centro Jovem Tabor, fundado em 1987, visa promover a reabilitação de jovens do sexo masculino que se encontram a cumprir medida de acolhimento da Lei de Promoção e Proteção. São jovens de diversos contextos sociais com um cenário comum, o de risco social.
O Tabor Outdoor é um projeto que realiza atividades de desporto de aventura para a comunidade, como canoagem, BTT, trail, caminhadas e escalada, com a participação dos jovens enquanto monitores, apoiados pelos monitores do centro.
SROI:
1,3:1
Mudanças nos stakeholders:
• Utentes
– Aumento de Hábitos de Vida Saudáveis
– Aumento da autoconfiança
– Aumento das competências para o mercado de trabalho
• Empresas
– Aumento da motivação dos colaboradores
– Aumento do reconhecimento interno das boas práticas
• Staff
– Aumento da motivação
– Melhoria das relações com os jovens
10. CEPAC (Projeto Gabinete de Apoio ao Emprego)
O CEPAC fornece apoio na integração de imigrantes em situação de exclusão social, especialmente os que vivem em situação irregular.
O projeto “Gabinete de Apoio ao Emprego” capacita imigrantes para resolverem a sua situação de desemprego e de irregularidade. Para isso, conta com a colaboração de um Técnico de Emprego e uma equipa de voluntários e estagiários, para o desenvolvimento de atividades de orientação profissional, formação em técnicas de procura de emprego, procura ativa de emprego e acompanhamento pós-colocação.
SROI:
6,21:1
Mudanças nos stakeholders:
• Imigrantes
– Maior empregabilidade
– Diminuição da preocupação em relação ao futuro
• Família
– Diminuição de ansiedade da família
• Voluntários e Estagiários GAE
– Maior do sentimento de utilidade
– Maior empregabilidade
Os conteúdos do blogue Ei – Educação e Informação não dispensam a consulta da respetiva informação legal e não configuram qualquer recomendação.
Este artigo foi útil?