Agosto 1, 2025
Atmosfera m Lisboa exibe “Black Water” e reforça apelo à ação climática global
A obra, “Black Water”, da autoria do realizador e guionista Natxo Leuza, constitui um poderoso alerta sobre as consequências humanas da crise climática global e serviu de ponto de partida para uma conversa enriquecedora entre convidados com perspetivas distintas, mas convergentes na urgência da ação.
Produzido pela Zulfimes, “Black Water” recebeu o Prémio CIIF Market Santa Cruz de Tenerife para o melhor projeto internacional e conta a história de Lookhi, uma mulher que, com o marido e as duas filhas, é forçada a abandonar a cidade costeira de Mongla, no Bangladesh, para tentar recomeçar a vida em Dhaka — uma das metrópoles mais sobrelotadas e poluídas do mundo. Entre migrações forçadas, empregos precários e o constante desafio de manter a dignidade num contexto de pobreza extrema, o documentário retrata de forma comovente o lado mais invisível da crise ambiental.
A sessão foi seguida de uma conversa moderada pelo produtor Fernando Centeio, que contou com a participação de Acácio Pires, analista de estratégia para políticas climáticas da Associação ZERO, e Fátima Nisa, cidadã bengali residente em Portugal. O encontro proporcionou momentos de reflexão profunda, que cruzaram ciência, política, emoção e testemunho pessoal.
Na sua intervenção, Idália Serrão, administradora da Fundação Montepio, destacou que o documentário nos confronta com realidades onde a crise ambiental se cruza com a exclusão social: a falta de trabalho digno, a habitação inadequada, o acesso limitado à educação e à saúde, e as migrações forçadas. Sublinhou que estas não são apenas questões ambientais — são desafios humanos, que exigem responsabilidade partilhada. Recordou ainda que o Grupo Montepio está comprometido com estratégias que contribuam de forma efetiva para mitigar os impactos das alterações climáticas nas pessoas, no ambiente e na sociedade.
Acácio Pires classificou “Black Water” como “um grito silencioso vindo do Bangladesh”, cuja dor não pode ser ignorada. Defendeu que o documentário é também um apelo claro à ação, lembrando que o mundo dispõe hoje dos meios necessários para abandonar os combustíveis fósseis, acolher dignamente as vítimas da crise climática e reconstruir com justiça a nossa casa comum. Mas, alertou, “é tempo de agir com coragem e humanidade”.
Por sua vez, Fátima Nisa emocionou os presentes com o seu testemunho pessoal, revelando que o documentário permaneceu consigo muito depois de ter terminado. Falando do seu país, partilhou o orgulho na resiliência do povo bengali, mas também a tristeza por ver os seus compatriotas a suportar o peso de uma crise que não criaram. Para Fátima, o filme relembra que as alterações climáticas não são apenas uma ameaça ao planeta, mas um drama profundamente humano. “Trata-se de nós — das nossas vidas, dos nossos futuros, das nossas histórias”, afirmou.
Encerrando a sessão, o produtor Fernando Centeio enalteceu o papel do espaço atmosfera m como lugar de diálogo e despertar de consciências. Sublinhou que exibir “Black Water” naquele espaço foi mais do que partilhar uma obra cinematográfica: foi proporcionar uma experiência transformadora, onde o cinema cumpriu a sua função de espelho do mundo e catalisador de pensamento crítico. “Agradecemos à Fundação Montepio por apostar num cinema que nos obriga a pensar e reafirma a nossa humanidade”, concluiu.