8 lições que todos devem aprender com Nelson Mandela
Por ocasião da comemoração do centenário de Nelson Mandela, o Ei teve a oportunidade de conversar, em exclusivo, com algumas figuras de relevo que conheceram e privaram com o carismático líder sul-africano. D. Ximenes Belo, prémio Nobel da Paz, Willie Esterhuyse, professor e figura de destaque na abolição do apartheid, e John Volmink, presidente da Academia Ubuntu, lembraram Madiba e os principais ensinamentos que deixou ao mundo.
Ensinamentos de Mandela
1. Acreditar que é possível (mesmo quando parece impossível)
A mensagem de que é possível alcançar a paz, mesmo quando todas as probabilidades ditam o contrário, é uma das mais fortes do legado de Nelson Mandela. “Madiba destacou-se como alguém que mudou o destino de todos. Ele fez-nos acreditar que a paz é possível mesmo nas situações mais difíceis”, afirmou John Volmink. “Todos concordamos que há muitos problemas no mundo e a África do Sul foi um lugar único. A raiz dos seus problemas era algo que ninguém pode mudar: a raça. O único caminho era encontrar um líder que unisse toda a gente e construísse essa ponte, de um lado para o outro. Nelson Mandela fez isso, quando ninguém acreditava ser possível”, prosseguiu.
2. Tratar todos da mesma forma
John Volmink destacou ainda as qualidades inatas de liderança que Mandela tinha, sublinhando a sua capacidade de reconhecer a humanidade em cada pessoa. “Aprendi com Nelson Mandela que ‘a medida de um homem é determinada por aqueles que não podem fazer-lhe nenhum favor’. Fosse quem fosse, Nelson Mandela tratava todos da mesma forma. Esse é um grande atributo de líder. Porque, em qualquer caso, restaura a dignidade e reconhece a humanidade”.
3. Dialogar com o inimigo
“Usamos muitas vezes as palavras perdão ou reconciliação para descrever Mandela. Eu prefiro dizer ‘falem com o inimigo’. Esta era a mensagem específica que ele transmitia sempre”, começou por dizer Willie Esterhuyse, recordando uma das frases míticas de Madiba: ‘Se quiser fazer as pazes com o seu inimigo, tem que trabalhar com ele. Aí, ele torna-se seu parceiro’. Esta frase, prossegue o professor, “capta não só a visão de Mandela, mas toda a sua personalidade. Ele era a encarnação da necessidade de paz, num mundo violento”.
4. Pôr-se na pele do outro
A empatia é uma das premissas da filosofia Ubuntu, pela qual Nelson Mandela se regia e que ajudou a espalhar pelo mundo. “Ninguém nasce com ódio, é algo que se aprende, que é passado de geração para geração, de pais para filhos e não se questiona. É importante não ignorar. É preciso ouvir a lógica da narrativa. E se eu ouço o outro, o outro tem de me ouvir a mim. Os dois temos uma lógica, não somos loucos”, explicou John Volmink. “Nelson Mandela criou isso”, prosseguiu o presidente da Academia Ubuntu, dando como exemplo a frase proferida no dia em que foi preso, em 1964: “Combati a dominação branca e combati a dominação negra. E este é um ideal pelo qual vivo e pelo qual estou preparado para morrer”. Quando saiu da prisão, 27 anos mais tarde, voltou a dizê-lo. “Nelson Mandela era comprometido com a coesão racial e com a justiça, mas também em compreender as razões do outro”.
5. Ser humilde
Em 1964, Nelson Mandela foi condenado a prisão perpétua, tendo cumprido 27 anos de cadeia. Estes anos que esteve encarcerado “deram-lhe perspetiva e humildade”, como explica John Volmink. “Uma vez estávamos num encontro, ele ia subir ao palco para fazer um discurso e todos estavam a cantar e a dar-lhes as boas vidas. Ele ficou ali sem dizer nada. Perguntaram-lhe: ‘porque é que não fala?’, ao que respondeu: ‘porque vocês acham que estas pessoas sabem que eu sou. Têm de me apresentar’”, prossegue.
6. Ser agradável com os outros
Além de todas as características conhecidas de Madiba, Willie Esterhuyse lembra Nelson Mandela como alguém “muito agradável”. Para ilustrar, recorda uma história em que teve de ir buscar Nelson Mandela a um hotel, para uma reunião secreta com Frederik de Klerk, na altura presidente da África do Sul. “Tive que o ir buscar no meu carro, um carro de família e muito velho, que eu achava não ser digno. Ele sentou-se comigo, à frente, e eu pedi-lhe desculpa por não ter encontrado um carro melhor. Ele olhou para mim e disse: ‘Jovem, por favor, não tente impressionar as pessoas com o seu carro, impressione-o com o seu caracter’”.
Esta simpatia também foi ilustrada por Ximenes Belo, que o caracterizou como uma pessoa afável, generosa, alegre e compreensiva com os problemas dos outros. “Por exemplo, quando o conheci, ele estava a par de todos os problemas de Timor Leste e apelava para que houvesse mais diálogo e compreensão entre nós e a Indonésia”, lembrou o Bispo.
7. Saber quando é altura de parar
Em 1994, quatro anos após a sua libertação, Nelson Mandela é eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, naquela que foi a primeira eleição democrática do país. No final do primeiro mandato decidiu não concorrer novamente ao cargo, pois reconheceu que havia outras figuras em ascensão. Esta capacidade de deixar o poder é elogiada por Willie Esterhuyse. “É preciso saber quando dizer chega”, diz o professor, lembrando o exemplo de Mandela. “Não abusem da posição de poder, porque se abusarem, corrompem o ideal do Estado, a corrupção torna-se sistémica e quando a corrupção se torna sistémica, está tudo acabado”, remata.
8. Recusar a violência
“Não podemos vencer uma guerra, mas podemos vencer umas eleições”. Esta é uma das famosas citações de Madiba, que ilustra a vontade de encontrar a reconciliação entre a humanidade. E esse é, para D. Ximenes Belo, um dos principais legados do líder sul-africano: “esquecer os ódios, as violências e, sobretudo, abrir os corações e as mentes para trabalhar para a construção da paz, afirmou o Bispo. “Temos de trabalhar para que haja reconciliação, tolerância e diálogo entre os homens”, conclui o Prémio Nobel da Paz.
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