Landeiro de Vaz: "O sistema monetário atual produzirá mais uma crise"

E se lhe dissessem que apenas 10% da massa monetária em circulação corresponde a moeda física (notas e moedas)? O Ei entrevistou o economista Jorge Landeiro de Vaz e revela-lhe algumas das suas ideias sobre o sistema monetário atual.
Artigo atualizado a 22-01-2018

O título do livro é “O poder da moeda – Os segredos do Euro”. Que segredos são estes que a moeda única esconde?

São os segredos de algo muito sofisticado que é a moeda. Neste caso, a moeda única europeia que desde que foi lançada é a segunda mais importante nas relações internacionais. Mas depois há as relações de poder que ela estabelece. Os cidadãos no geral não sabem o que é a moeda e o conhecimento que lhes chega é insuficiente. A moeda é, talvez, a questão económica mais importante de todas. É unidade de valor, é unidade de reserva, é meio de pagamento. Assume um conjunto de atributos com o qual valorizamos o trabalho, mas o processo de emissão monetária é algo desconhecido da maioria das pessoas.

Que mensagem gostava que os portugueses assimilassem com o livro?

As pessoas não têm ideia do que é a moeda escritural. Se as pessoas perceberam que 91% da moeda em circulação é moeda escritural, se calhar começavam a refletir sobre o impacto que tem nas suas vidas.

Sendo o Ei um portal de literacia financeira, podia explicar o que é a moeda escritural?

A moeda escritural é uma moeda de emissão descentralizada, emitida pelos bancos comerciais, que não são notas e moedas, mas são convertíveis em notas e moedas. Tem subjacente dois contratos: um contrato de crédito e um contrato de depósitos.

Jorge Landeiro de Vaz

No seu livro, o economista refere que a emissão privada de moeda, criada do nada pelos bancos, representa mais de 90% da massa monetária em circulação.

O que representa a moeda escritural para a economia?

Estamos a falar do sistema monetário. Há um capítulo do livro que fala nisso, que defende que a emissão monetária deve ser mais dependente da soberania e não ser tão descentralizada. É uma proposta que já foi feita por vários economistas dos anos 30, da escola de Chicago, no sentido de diminuir o impacto das crises económicas. O sistema monetário atual acabará por produzir mais uma crise mais à frente.

Acredita nisso?

É uma questão factual. Este sistema monetário já existe há 200 anos e tem produzido estes resultados. É inevitável que volte a acontecer. É preciso uma profunda reflexão sobre este sistema monetário e que não está a acontecer.

Qual seria a alternativa ao sistema monetário que vigora?

Tem que haver uma reforma do sistema monetário. Eu acredito na soberania dos Estados e a forma como o sistema monetário está construído atualmente conduz inevitavelmente à especulação.

O prefácio do livro é escrito pelo professor João Ferreira do Amaral, que defende a saída de Portugal do Euro. Concorda com esta visão?

Essa é uma posição de alguns economistas. No meu livro não falo disso, falo da natureza da moeda e do sistema monetário. Acredito que a emergência dos novos tipos de moedas virtuais coloca desafios importantes para o sistema monetário atual, de onde podem emergir soluções de futuro, que deem maior estabilidade aos sistemas económicos e financeiros. Eu defendo uma estabilidade do sistema económico e financeiro, que não seja abalado periodicamente.

Os portugueses devem prevenir-se para uma nova crise económica?

Virá uma crise do sistema mas não sabemos quando. As crises têm aquilo a que chama efeitos assimétricos. Há economias/países que sofrem mais com estas crises do que outros e Portugal é um exemplo disso. A crise de 2008 impactou mais os países periféricos. Se houver uma crise do sistema, como haverá um dia, o impacto não será igual em todas as economias. Pode ser daqui a 10 anos, menos ou mais. Não sabemos. Enquanto não houver uma reforma do sistema, as crises cíclicas vão continuar a acontecer.

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