Ecoansiedade: como as alterações climáticas afetam a sua saúde mental
O termo ecoansiedade foi cunhado, em 2017, pela Associação Norte-americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês), na sequência de um número crescente de casos de pessoas que viam o seu estado de saúde mental perturbado pelas alterações climáticas. No entanto, já em 2005, o australiano Glenn A. Albrecht surgia com o neologismo “solastalgia” para falar do sentimento de perda associado ao aquecimento global e ao seu impacto no ecossistema. Apesar de não ser considerada oficialmente uma doença, a ecoansiedade suscita cada vez mais preocupações pela sua prevalência. Conheça melhor este estado de saúde mental.
Ecoansiedade: o que é?
Nos últimos anos, investigadores e cientistas sentiram a necessidade de criar um termo para uma nova condição de saúde: a ansiedade provocada pelos efeitos das alterações climáticas e ambientais. Em 2017, a APA surgiu com a palavra ecoansiedade, definindo-a como o “medo crónico da destruição ambiental”. Este “medo existencial” pode associar-se à sensação de iminência de uma catástrofe ambiental, sejam grandes cheias ou incêndios, ou à destruição progressiva dos recursos naturais do planeta. “É um mal-estar” em grande parte relacionado com “o luto por falta de contacto com a natureza” ou pelo facto de se assistir ao seu desaparecimento, como explica Paulo Vieira de Castro, autor do livro Isto não é uma invenção: ecoansiedade e o futuro do planeta.
Mas a ecoansiedade não é considerada uma doença, de forma oficial. Existe, aliás, uma certa “indefinição do conceito” e a ausência de um “entendimento cabal” sobre esta questão, dá conta o autor. Cada vez mais discutida e consensual, no entanto, a ecoansiedade é hoje considerada um tipo de ansiedade causada pelo impacto das alterações climáticas no ambiente, podendo manifestar-se de diferentes formas. Sendo a ansiedade, em si, uma condição normal, quando é sentida com demasiada intensidade e frequência, pode ser encarada como uma perturbação de saúde.
Como identificar a ecoansiedade?
Não é preocupante sentir ansiedade como reação a situações de perigo ou de stress. “A ansiedade obriga a ter uma atitude”, refere Paulo Vieira de Castro. No entanto, quando este estado atinge proporções elevadas e se torna recorrente (com duração de pelo menos seis meses), passa a interferir com o bem-estar e o funcionamento normal no dia a dia. Neste caso, podemos estar perante um estado de saúde que requeira acompanhamento profissional. No caso específico da ecoansiedade, as causas assentam numa “realidade muito concreta”, como a perda das estações do ano, a consciência do sofrimento animal ou a desflorestação, por exemplo. É, por isso, importantesaber identificar os tipos de ansiedade possíveis, bem como os sintomas que lhes estão associados.
Tipos de ansiedade
Uma perturbação de ansiedade pode manifestar-se de diferentes formas. Conhecê-las é um primeiro e importante passo para evitar que a situação progrida e tenha consequências negativas para a saúde. Eis os tipos de ansiedade conhecidos:
Fobia
A fobia é uma perturbação que surge devido ao medo de determinadas situações (andar de avião ou falar em público, por exemplo) ou de objetos animados (como pessoas ou animais). No caso da ecoansiedade, poderá tratar-se de medo de comer algo ou participar numa atividade que seja considerada uma fonte de preocupação ecológica.
Ataque de pânico
É uma crise súbita e intensa de medo, acompanhada de pensamentos catastróficos. A iminência da morte ou de doença associadas à crise ecológica são duas situações possíveis.
Stress pós-traumático
É um tipo de ansiedade intensa ativado por uma memória traumática, que, neste caso, poderão ser situações de incêndio ou de cheias. Esta memória faz com o que indivíduo reviva a situação e volte a sentir os medos que experienciou naquela altura.
Perturbação de ansiedade generalizada
Esta perturbação caracteriza-se pela persistência de sintomas de vários tipos, entre os quais, sintomas físicos, como cólicas, alterações no funcionamento intestinal, palpitações, tonturas e/ou suores.
Sintomas mais comuns
Os sintomas de ansiedade podem ser psicológicos, físicos e comportamentais. Estes são alguns dos mais comuns:
Psicológicos
- Medo intenso;
- Apreensão;
- Inquietação;
- Falta de concentração;
- Preocupação constante;
- Foco exclusivo na fonte de medo;
- Estado de alerta e dificuldade em adormecer;
Físicos
- Tensão muscular;
- Tremores;
- Respiração e batimento cardíaco acelerados;
- Tonturas;
- Sensação de formigueiro;
- Suores;
- Boca seca;
- Vontade súbita de urinar e/ou defecar.
Comportamentais
- Tentativa de evitar a ameaça ou a fonte de perigo, ou mesmo de pensar sobre as mesmas. Por exemplo, a pessoa com medo de viajar de avião prefere evitar o tema ou com medo de alturas prefere evitar aproximar-se de pontos altos.
Como tratar a ecoansiedade?
Depois de pelo menos seis meses de sintomas persistentes, a pessoa com ecoansiedade (tal como a pessoa com ansiedade, no geral) deve consultar o médico de família, um psicólogo ou psiquiatra. Realizado o diagnóstico, poderá haver três caminhos para o tratamento deste tipo de ansiedade: psicoterapia, medicação ou ambos. Paulo Vieira de Castro chama a atenção, ainda, para duas possibilidades de lidar com a ansiedade: o reforço ou restabelecimento do contacto com a natureza (ir à praia, colocar os pés na terra, passear na floresta); e falar sobre o assunto entre pares. “Falar do tema e perceber que há mais pessoas a sentir o mesmo é terapêutico”, refere o autor.
Quão frequente é a ecoansiedade?
Em Portugal, não existem dados que permitam saber a prevalência deste tipo de ansiedade. No entanto, um estudo de 2022 conduzido pelo CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, da Universidade do Porto, revelou que um em cada dez dos estudantes inquiridos manifestava sintomas de ecoansiedade quase todos os dias ou mesmo diariamente.
Em 2021, o jornal britânico The Guardian publicou o resultado do “maior estudo científico feito até ao momento sobre a ansiedade climática e os jovens”. Uma das conclusões foi que quatro em cada dez jovens ponderava não ter filhos devido ao impacto das alterações climáticas no planeta.
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