Impacto social: Como envolver o Estado nas organizações sociais?

Inúmeros intervenientes do setor da economia social estiveram presentes na quarta edição do Fórum Impacto Social, com o objetivo de trazer o Estado para esta Comunidade.
Artigo atualizado a 17-06-2021

Pelo palco passaram inúmeros intervenientes do setor da economia social português, como Filipe Almeida, do Portugal Inovação Social, e Paula Guimarães, da Fundação Montepio. Para falar sobre os seus projetos estiveram representantes das 10 associações que participaram no projeto de capacitação intensiva (Isprototipagem) da Comunidade Impacto Social.

O que é o SROI?

O Social Return on Investment (SROI) é uma análise custo-benefício do valor social gerado pela intervenção de uma organização.

Vítor Simões, coordenador da 4Change, consultora em impacto social que introduziu a metodologia SROI em Portugal, inaugurou o palco para falar sobre a Comunidade Impacto Social – um projeto que deu os primeiros passos em 2013, ainda como Programa de Impacto Social, e que gradualmente avançou para uma comunidade. “Este ano temos um desafio particular, que é iniciar um diálogo entre estas organizações sociais e as entidades públicas – das quais dependem do ponto de vista financeiro”, explicou.

“Falhar é normal”

O tema principal da conferência (impacto e as políticas públicas) esteve a cargo de António Silva, Senior Advisor na Behavioural Insights Team (BIT), uma empresa sediada no Reino Unido cujo objetivo é redesenhar os serviços públicos recorrendo às ciências comportamentais. “Somos altamente empíricos. Testamos e experimentamos as ideias antes de serem implementadas à escala e isso permite entender o que funciona ou não”, afirmou o speakernote durante o seu discurso.

Como funciona esta técnica? As políticas públicas são tradicionalmente baseadas na regulamentação (através de leis, incentivos, impostos ou campanhas). O trabalho da BIT é complementar estas ferramentas e alavancar as já existentes, através da experimentação. “Juntamente com o parceiro definimos o problema e o comportamento específico que pretendemos alterar, depois iniciamos a fase exploratória, onde identificamos o contexto e a forma como esse contexto afeta a decisão as pessoas. Por fim, com base nas conclusões da fase exploratória e o nosso conhecimento das ciências comportamentais, desenhamos uma intervenção e testamos o seu impacto”, explicou António Silva. A título de exemplo, o Senior Advisor da BIT trabalhou com os tribunais britânicos para incentivar a população a pagar os custos legais em atraso. No processo exploratório descobriu que a maior parte destas pessoas nem sequer abriam as cartas. “A nossa solução foi redesenhar os envelopes das cartas com cores apelativas. Foi um sucesso”.

Testar as intervenções antes de as aplicar é fundamental para perceber o que pode funcionar. Ainda assim, António Silva revelou que, de acordo com estudos recentes, 60 ou 70% dos programas sociais não produzem efeito. “Falhar é normal. É importante que as pessoas, as organizações e os governos aceitem que estão a resolver problemas graves e que, na maioria dos casos, as estratégias não vão funcionar”.

“Estes projetos são um laboratório interessante para a administração pública”

Depois das primeiras cinco organizações apresentarem os seus projetos (GIRUGaia, Cadin, Centro Sagrada Família, Centro Jovem Tabor e Fundação AFID) e o respetivo SROI apurado, Filipe Almeida, da Portugal Inovação Social, abordou uma das questões mais controversas do SROI, que é a monitorização do retorno social. Segundo o especialista, a importação desta metodologia empresarial para a esfera da economia social cria alguns problemas. “O impacto social pressupõe mudanças de médio/longo prazo, que estão muito além do momento em que se faz o investimento. E quando se procura encontrar um SROI imediato para o que foi feito estamos a ignorar os impactos que irão ocorrer no futuro”. Apesar disso, o especialista sublinha que o impacto social é necessário para ter uma noção de como a política pública impacta os cidadãos e o seu bem-estar. “Desse ponto de vista, estes projetos são um laboratório interessante para a administração pública aprender e integrar esta cultura da avaliação”.

O que são stakeholders?

São as todas as partes interessadas nos projetos. Por norma são os beneficiários diretos das atividades, a organização implementadora, parceiros e investidores.

Catarina Marcelino, deputada e ex-secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, reforça esta ideia: “É importante perceber como é que as instituições de solidariedade social em Portugal impactam as políticas públicas. E isto acontece. Se retirássemos todas as instituições de solidariedade, o Estado não tinha capacidade de resposta”, enfatiza.

 “Ainda hoje falamos diariamente desta avaliação”

À tarde foi a vez de mais cinco organizações apresentarem os seus projetos e o SROI (Helpo, APSI, ARCIL, CEPAC e Cáritas Paroquial de Coruche). Os comentários aos projetos apresentados estiveram a cargo de Patricia Boura, da Fundação Gil, Domingos Lopes, do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (PO ISE), e Luísa Malhó, do Programa Escolhas.

Patrícia Boura referiu que a Fundação Gil, associação da qual é presidente executiva, também foi sujeita a uma avaliação de impacto social e deixou uma palavra de incentivo a todas as organizações que “tiveram a coragem de se despir para avaliar os projetos”. Diz a responsável que o impacto desta avaliação foi tão importante que ainda hoje é tema recorrente na Fundação a que preside. “Tem uma presença enorme no nosso trabalho. E para estas organizações vai trazer frutos muito bons. Cada vez que delinearem uma estratégia e estiverem a avaliar os projetos vão fazê-lo de forma mais segura, correta e vão, de certeza, fazer um trabalho melhor”.

Já Luísa Malhó reforçou a importância da avaliação de longo prazo, porque “existem alguns impactos que são imediatos, mas no espaço de um ano não é possível identificar todas as mudanças”. Domingo Lopes ressalva que todos os projetos foram muito assertivos na identificação dos pontos a melhorar, o que é o primeiro passo para os aperfeiçoar. No entanto, “no caso da educação seria interessante alargar a avaliação a outros stakeholders. Os impactos devem ser medidos nos interessados diretos (alunos, famílias ou escola), mas também a comunidade como um todo”.

Ler mais

Os conteúdos do blogue Ei – Educação e Informação não dispensam a consulta da respetiva informação legal e não configuram qualquer recomendação.

Este artigo foi útil?

Se ficou com dúvidas ou tem uma opinião que deseja partilhar, preencha o formulário abaixo para entrar em contacto connosco.

Torne-se Associado

Saiba mais