Aldeias que tocam, Povo que clama: Reviver o passado em Trás-os-Montes

Levar a música e encontros de saberes a aldeias esquecidas de Portugal é a missão do projeto Aldeias que tocam, Povo que clama, que conta com o apoio da Fundação Montepio.
Artigo atualizado a 13-12-2018

Promover o envelhecimento ativo e combater o isolamento social da população das aldeias do concelho de Macedo de Cavaleiros, em Trás-os-Montes, e das famílias mais vulneráveis de Oeiras e Lisboa. Este é o objetivo do projeto Aldeias que tocam, Povo que clama. A iniciativa integra-se no programa de intervenção social – Famílias com Alma do Centro Sagrada Família da Fundação Obra Social das Religiosas Dominicanas Irlandesas.

A ideia do projeto Aldeias que tocam, Povo que clama é partilhar saberes e fomentar o intercâmbio intergeracional através de atividades culturais realizadas em recantos escondidos do norte de Portugal.

Amélia Borges, diretora do Centro da Sagrada Família, em Algés, é uma das mentoras da iniciativa. Nasceu em Trás-os-Montes, mas saiu da aldeia da Sobreda ainda muito jovem para estudar, num tempo em que nem sequer existia eletricidade. Numa primeira fase foi para perto de Miranda do Douro e depois para Lisboa.

Isto, num tempo em que nem sequer existia eletricidade. Para perto de Miranda do Douro, numa primeira fase, e depois em Lisboa.  “A minha aldeia tem hoje poucos habitantes, mas mantém uma atividade comunitária muito interessante. Sinto a responsabilidade de fazer algo pela minha região”, explica a responsável.

A música inspira o projeto Aldeias que tocam, povo que clama. O objetivo é tentar diminuir o isolamento social que tantas vezes atinge os idosos. “Imagine o que é ouvir o som divinal do clarinete e do saxofone a ecoar pelo silêncio de uma aldeia.” Este é um dos momentos espontâneos que Amélia Borges recorda. Mas existem outros. “Fomos conhecer a tia Maria Luísa, que faz pão, e ouvimos histórias de tempos antigos ou comemos cerejas diretamente da árvore. São momentos inesquecíveis para todos”, sublinha a diretora.

Orquestra do Montijo tocou e encantou

O projeto, que contou com as primeiras atividades em abril de 2018, organizou um espetáculo no Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros, reunindo diferentes gerações. Os 28 alunos da orquestra do Conservatório Regional de Artes do Montijo interpretaram temas clássicos sob o tema “O Esplendor Barroco”. Já os idosos da região, o grupo de jovens voluntários e a Academia Sénior do Centro da Sagrada Família subiram ao palco para apresentações musicais variadas.

A ideia atingiu o seu objetivo: animar as pessoas e dar a conhecer a região, num evento cultural que se voltou a repetir em junho. “Visitámos adegas, poços e fornos comunitários nas aldeias. Criaram-se laços tão fortes que, na hora da despedida, todos estavam emocionados.”

A iniciativa Aldeias que tocam, povo que clama voltou a aproximar, no princípio do verão, a população idosa das duas regiões, Fê-lo através da troca de experiências, da realização de um espetáculo de teatro e musical e de expressões criativas, ajudando a refletir sobre alguns desafios da atualidade para as regiões do interior. Paula Guimarães, diretora da Fundação Montepio, dinamizou uma ação de formação intitulada “Macedo de Cavaleiros – Como construir uma sociedade empreendedora”, dirigida aos técnicos das autarquias locais e organizações sociais.

Paisagens naturais a perder de vista

Visitar a região de Macedo de Cavaleiros é também conhecer as Terras de Cavaleiros. Um território reconhecido pela rede de Geoparques da UNESCO, locais de grande beleza paisagística que também fizeram parte do roteiro. Os participantes percorreram locais de interesse geológico, barragens e museus, para além de terem participado num encontro de saberes com teatro, poesia, música, cavaquinhos e bandolins. “Eu própria toquei violoncelo, um instrumento que tinha o sonho de aprender e em que dei os primeiros passos há três anos”, partilhou Amélia Borges.

A responsável espera também fomentar a reabilitação de casas em Trás-os-Montes para receber famílias que desejem uma vida alternativa aos centros urbanos ou até para que possam usufruir de períodos de férias. “Existe um enorme potencial no interior. Afirmar que está muito desertificado, que para aqui ninguém quer vir, é uma leitura muito pessimista para um espaço tão maravilhoso, no qual tantas pessoas da cidade se sentem felizes”, considera.

Em 2019 pretende-se alargar horizontes. O objetivo é envolver mais iniciativas de outras artes e promover maior participação de jovens, voluntários e seniores, num espírito de partilha intergerações e inter-regiões.

O projeto Aldeias que Tocam, Povo que Clama tem como expetativa realizar vários encontros, nomeadamente a Semana 4 Estações, que integra a aprendizagem musical e outras artes. Prevista está também a realização de concertos de música nos cabanais, alpendres de colmo que, de acordo com os hábitos e cultura tradicional da região, recebiam espetáculos de teatro ou animação.

“Os músicos afirmam que a acústica é muito boa. No plano para 2019 está a ideia de levar a música aos cabanais das várias aldeias, porque cada uma tem a sua beleza e uma história para contar.” Um sonho que Amélia espera que se transforme em realidade.

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