Dos 20 aos 80 anos: ensinamentos de poupança de três gerações

É mais fácil poupar nos dias de hoje do que no passado? São as novas gerações mais gastadoras do que as antigas? A partir dos testemunhos de três gerações, o Ei revela como mudou o paradigma da poupança nos últimos 40 anos.
Artigo atualizado a 14-12-2021

As primeiras economias

Com o primeiro dinheiro que economizou, Francisco Machado comprou um conjunto de pincéis e tinta. Na altura, ainda vivia a Oriente, na chamada Índia Portuguesa (Goa, Damão e Diu). Com o fim do domínio português na região, Francisco mudou de continente e chegou a Portugal, em pleno regime do Estado Novo.

Também em Portugal, mas já em democracia, Aida Machado, filha de Francisco, usou as primeiras poupanças para comprar um carro.

Anos mais tarde, foi altura de Nuno Guerreiro, o filho de Aida e neto de Francisco, tomar também uma decisão quanto ao primeiro dinheiro amealhado, fruto da sua poupança: comprar uma consola de jogos Playstation Portable.

Ensinamentos de poupança que ficaram

“Viver a velhice sem contar tostões para os remédios e afins”

“Guardar hoje para gastar amanhã” foi a principal lição sobre poupanças que Aida se recorda de receber dos pais. A consultora financeira, que partilha o tempo entre o Algarve e Lisboa, poupa hoje para garantir uma segurança de futuro. O objetivo é “viver a velhice sem contar tostões para os remédios e afins” e, com isso em mente, Aida vai conseguindo controlar os gastos e investir numa conta poupança. “Aprende-se a poupar quando não se tem e poupa-se quando se tem”, realça.

Aida põe em prática a regra de poupança que Francisco espera que os seus três filhos sigam sempre: “pensar no futuro”. Num passado que entrecruza Índia e Portugal, Francisco sabe, em primeira mão, o que é viver num contexto que não permite poupanças, só a sobrevivência. “Na Índia não se consegue comprar tudo o que é necessário, quanto mais poupar”, recorda, acrescentando que, com o mesmo tipo de vida, “consegue-se poupar em Portugal”. Como, por exemplo? “Em Portugal come-se muitos doces, gasta-se muito fora, muda-se de mobília… Na Índia a mobília passa de geração para geração”, exemplifica o patriarca.

“Tem de se deixar alguma coisa para as urgências”

Os cuidados financeiros têm sido uma preocupação da família Machado, de geração em geração. Francisco ouviu dos seus pais que “nunca deve faltar nada aos filhos”, mas que, ainda assim, “tem de se deixar alguma coisa para as urgências”.

Já Aida quer que os dois filhos – Nuno e Rita – gastem no essencial e que tirem proveito dos investimentos. Ou seja, que pensem sempre se as suas opções resultam em ganhos para o futuro: “gastar no cinema se valer a pena; jantar fora se os colegas tiverem interesse; pensar no futuro e investir em formação (línguas, por exemplo), no lazer e em casa”, pormenoriza. Os ensinamentos foram transmitidos, mas será que os filhos de Aida são poupados? “São de certeza”, responde a mãe, peremtória. Nuno, na primeira pessoa, prefere uma abordagem mais modesta: “creio que sou uma pessoa que fica a meio termo [entre o poupado e o gastador]”, considera.

“Só ir buscar dinheiro à conta poupança quando é mesmo necessário”

Mesmo assim, o trabalhador-estudante de 20 anos tem a preocupação constante de manter “uma quantia máxima na conta [à ordem] e só ir buscar dinheiro à conta poupança quando é mesmo necessário”, explica. Além do controlo regular do extrato bancário, Nuno faz já opções a pensar no futuro. Quanto tem algum dinheiro de sobra subscreve uma solução de poupança. Os objetivos são pragmáticos: “juntar dinheiro para um carro e uma casa”, embora exista também o sonho, a curto-médio prazo, de realizar um Interrail pela Europa.

Truques e hábitos de poupança

Comparar preços

Do avô ao neto, na família Machado ninguém faz compras sem comparar preços. Este é um dos principais truques de poupança que contam ao Ei, muito embora também aqui se sinta o peso do tempo. Francisco, por exemplo, compara preços em várias lojas.

Nuno, por seu lado, já aproveita as vantagens da Internet. Além de comparar preços em vários estabelecimentos, como o avô, usa um comparador online de preços. A estratégia dá os seus frutos imediatos: “quando comprei a minha máquina fotográfica, consegui um preço inferior em 150 euros ao preço que esta vale no mercado”, conta o estudante de engenharia mecânica.

A própria compra da máquina fotográfica foi resultado da reflexão de experiências passadas. A Playstation Portable (que Nuno comprou com as primeiras economias) rapidamente foi posta de lado. “Passado mais ou menos um ano já não a utilizava”, reconhece. Por isso, antes de comprar o aparelho fotográfico, ponderou a importância desta aquisição no seu desenvolvimento pessoal: “comprei uma máquina fotográfica porque gosto bastante de fotografia e tenho outros projetos de vida que fazia sentido existirem depois desta compra”.

A mãe de Nuno também é fã da comparação de preços, desde roupas a eletrodomésticos e telemóveis, à procura da oportunidade mais em conta. No supermercado, tenta evitar as promoções “pague 2, leve 3” porque existe a possibilidade de desperdícios e de, contas feitas, o barato sair mais caro.

Andar de bicicleta

No dia a dia, Nuno tem na bicicleta uma importante aliada do controlo de despesas. Poupa nas despesas em transportes sempre que pode usar as ‘duas rodas’ ou mesmo ir a pé. Além disso, adianta, leva comida de casa sempre que possível e vai evitando jantares de convívio de colegas e saídas à noite.

Estipular um preço médio por refeição

Aida tem outros truques para poupar. Em casa, a regra é “aproveitar ao máximo e não deitar fora o excedente”. Por isso, a consultora financeira estipulou um preço médio por refeição, que serve sempre como indicador. “Vou equilibrando, isto é, se um dia gasto em camarões, no outro dia tem de ser esparguete – de maneira a manter o preço médio”, pormenoriza.

É mais fácil poupar hoje do que há 40 anos?

Partilhados os truques e hábitos de poupança, resta saber que geração é a campeã da poupança. Afinal, será mais fácil economizar nos dias de hoje, com o acesso a novas tecnologias, ou não? Francisco não tem dúvidas de que as “gerações mais novas são mais gastadoras”, até porque “há mais tentações do que há 40 anos, como o computador, a televisão ou a Internet”.

Por seu lado, Aida fala numa mudança de prioridades para os mais novos, que atribui a serem “deveras influenciáveis”. Ou seja, é uma geração “poupada em certas coisas, mas mais gastadora em outras”. Para ilustrar esta dicotomia, dá alguns exemplos: as gerações mais novas poupam numa carta de condução, mas gastam em viagens; poupam em refeições (optando por fast food) e gastam em roupas de marca; poupam em saúde e gastam em hobbies supérfluos.

A influência dos pais na educação financeira dos filhos

Os ensinamentos de poupança dos pais podem ter um importante papel na saúde financeira dos filhos. No caso da família Machado, a importância de economizar para os imprevistos da vida foi uma lição que passou de geração em geração. Com 80 anos, Francisco ainda se lembra dos ensinamentos poupança dos pais. Já Nuno sabe que foi com os pais que aprendeu “a poupar o dinheiro para poder utilizar no futuro, quando necessário”. E, provavelmente, será este um dos ensinamentos de poupança a reiterar aos futuros filhos, bisnetos de Francisco e netos de Aida, num ciclo geracional de poupança, precaução e segurança para o futuro.

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