Frota Solidária: Na Madeira, há uma IPSS que vai passar mais tempo na estrada

A nova viatura adaptada e oferecida à Associação de Paralisia Cerebral da Madeira mudou a vida dos 86 utentes da instituição e dos seus cuidadores. Saiba qual o papel da Fundação Montepio no regresso à estrada da APCM.
Artigo atualizado a 15-06-2022

Desde maio de 2022 que os utentes da Associação de Paralisia Cerebral da Madeira (APCM) não faltam aos passeios que a instituição promove regularmente, nem aos torneios de boccia ou às consultas de rotina no hospital. No centro da nova vida dos 86 utentes da APCM está uma cadeia de solidariedade que se iniciou a 1 de abril de 2021. Foi a partir desta data que os contribuintes começaram a consignar o seu IRS à Fundação Montepio, no preenchimento da declaração de IRS relativa a 2020.

Mais de um ano depois, a 24 de maio, em Lisboa, a cadeia solidária deu lugar à entrega de uma viatura adaptada híbrida – entre outras, destinadas a outras instituições -, que responde às necessidades de mobilidade da associação madeirense.

“A viatura ficará ao dispor dos utentes do lar residencial, permitindo que não existam restrições no número de utentes que integram os passeios”, explicou ao Ei Cristina Andrade, vice-presidente da direção da APCM. Antes da entrega da viatura, as saídas da APCM para passeios e atividades faziam-se alternadamente. “Agora aumentaremos o número de saídas”, congratula-se.

Solidariedade sobre rodas

A nova viatura proporcionará outras mudanças na vida dos utentes da APCM. Por um lado, a logística das deslocações para as consultas médicas será mais simples: os utentes não necessitam ficar muito tempo à espera de transporte de regresso. Os jovens que estão ligados ao desporto, por outro, poderão participar mais vezes nos campeonatos e torneios regionais de boccia – até agora, muitas vezes não participavam por falta de transporte. Finalmente, a agenda da instituição não terá mãos a medir para as saídas destinadas ao treino de autonomia dos utentes. Por exemplo, quando estes se deslocam para efetuarem as suas compras pessoais.

“Os nossos utentes são pessoas muito dependentes e que exigem cuidados de saúde específicos. Em termos de mobilidade, mais de 75% dos utentes são dependentes de cadeira de rodas para assegurar a sua mobilidade”, revela Cristina Andrade.

Ao todo, a instituição é “casa” de 86 utentes. Mais de metade (49 utentes) frequentam o lar residencial, uma vez que são afetados por diversos problemas de saúde graves: paralisia cerebral, doenças degenerativas, ataxias, traumas cranioencefálicos (TCE), trombose venosa mesentérica (TVM) e debilidades mentais.

A APCM dispõe, ainda, de um Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI), o qual é frequentado por 37 utentes em regime de semi-internato. A idade média, acrescenta Cristina Andrade, é de 45 anos.

Contar histórias, promover a autonomia

Durante a pandemia, a dinâmica organizacional da instituição foi profundamente alterada, para minimizar o risco de transmissão nos utentes. Deste modo, a nova viatura será bem-vinda e dará um sinal de normalidade na instituição.

“Terá um papel importante no transporte exclusivo dos utentes do lar residencial”, esclarece a responsável. “Diariamente transportamos os utentes para consultas de especialidade no hospital e tínhamos que ficar sempre sujeitos aos horários disponíveis da viatura que transporta os utentes diariamente para o CACI e vice-versa. Por vezes perdíamos as consultas devido a questões de transporte”, lamenta Cristina Andrade. A viatura, que se juntará à outra já existente, será essencial na organização de mais passeios e mais saídas ao exterior para os utentes.

Além das atividades que realiza fora de portas, a APCM promove projetos internos junto dos utentes. “Um exemplo disso é o projeto dos contadores de histórias, que tem o objetivo de sensibilizar para a paralisia cerebral e as acessibilidades físicas nas escolas”, conta Cristina Andrade. O projeto é dinamizado por dois jovens com patologia motora, que recorrem a um tablet com sistema de comunicação aumentativa e alternativa (SAAC) com voz sintetizada. Os jovens percorrem as escolas da região, mas têm sido muitos os convites rejeitados por falta de transporte.

“Com a nova viatura, os contadores poderão ir a um maior número de escolas, tantas vezes quanto as solicitadas”, congratula-se a vice-presidente da APCM.

Grupo Montepio com vocação solidária

A 14ª edição da Frota Solidária, projeto da Fundação Montepio de promoção à mobilidade, inclusão e combate ao isolamento e à desertificação, distribuiu 10 viaturas adaptadas a outras tantas IPSS portuguesas. Cinco dessas viaturas foram entregues a 24 de maio, sendo a APCM uma das IPSS selecionadas.

“Infelizmente não servimos tantas IPSS como gostaríamos”, revelou o presidente do Grupo Montepio, Virgílio Boavista Lima, na cerimónia de entrega das viaturas. Atualmente, a consignação fiscal representa apenas 30% do total investido nesta frota – cerca de 105 mil euros -, sendo o restante, cerca de 330 mil euros, assegurado pela Fundação Montepio.

O projeto, que à sua 14ª edição continua a ser inovador, ajuda as IPSS a assumirem um papel ainda mais relevante no combate a diferentes formas de exclusão social. Assim, através da Frota Solidária, a Fundação Montepio apoia as IPSS que trabalham, diariamente, com causas sociais importantes e contribuem para o desenvolvimento mais sustentável de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Desde 2008, a Frota Solidária já entregou 248 viaturas a outras tantas IPSS portuguesas, num total de 4,3 milhões de euros investidos. Em 2021, candidataram-se ao projeto 181 instituições, tendo sido aplicados 335 mil euros na aquisição de novas viaturas.

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