Estagflação: o que é e como proteger a sua carteira

A estagflação é um dos fenómenos económicos mais difíceis de ultrapassar. Conheça, neste artigo, o que significa este termo e as implicações para a sua vida.
Artigo atualizado a 30-10-2022

A estagflação é uma ameaça à estabilidade financeira das famílias, sobretudo das que estão menos preparadas para enfrentar este tipo de fenómeno económico adverso. Raro, mas difícil de superar, este é um quadro que exige precaução e uma estratégia de combate bem sedimentada.

O que é a estagflação?

O termo estagflação resulta da combinação das palavras estagnação e inflação. Serve para caracterizar um período em que a atividade económica regista um crescimento fraco, nulo, ou mesmo negativo, ao mesmo tempo que os preços aumentam a um ritmo muito superior ao normal e que ocorre uma subida do desemprego.

Um fenómeno raro mas com forte impacto

A estagflação é uma situação muito pouco frequente, normalmente motivada por choques externos, daí ser muito difícil de combater com recurso aos habituais mecanismos de política monetária e orçamental. Habitualmente, em períodos de baixo crescimento económico ou de recessão, o desemprego aumenta, mas a inflação também abranda, pressionada pela redução da procura. A inflação elevada é mais comum nos períodos de expansão económica robusta.

A primeira utilização do termo é atribuída a Ian Macleod, um deputado do Partido Conservador que, em 1965, disse no Parlamento britânico que a economia do Reino Unido enfrentava o “pior dos dois mundos” devido à situação inédita de estagnação e inflação em simultâneo. Mas foi nos anos 70 que o termo estagflação ganhou notoriedade, na sequência de dois choques petrolíferos, provocando uma crise mundial. E, volvido meio século, o fenómeno pode voltar a repetir-se.

Em 2022 vive-se uma estagflação?

Em 2022, os efeitos conjugados da guerra na Ucrânia, a crise energética, os problemas nas cadeias de abastecimento globais e o crescimento da procura devido ao alívio das restrições da pandemia trouxeram o fantasma da estagflação para o espaço público. A inflação atingiu níveis recorde e o crescimento económico travou a fundo, mas o desemprego manteve-se estável, não estando por isso cumpridos todos os requisitos para que seja evidente uma estagflação a nível global.

E se a estagflação realmente acontecer? Continue a ler este artigo e saiba como pode ser afetado e o que fazer.

Como a estagflação afeta as famílias?

A subida do custo de vida dificilmente é acompanhada pelo aumento dos rendimentos, o que torna o impacto da estagflação bastante evidente para as famílias. Eis os efeitos diretos mais previsíveis:

Perda de poder de compra

É o efeito mais grave e direto para as famílias. A subida acentuada dos preços faz aumentar as despesas mensais das famílias. Para não perderem poder de compra, teria de existir um aumento idêntico dos rendimentos (salários), um cenário difícil de se concretizar tendo em conta a situação de estagnação económica.

Subida do desemprego

Enfrentando um aumento dos preços (inflação) e, portanto, dos custos e um abrandamento da sua atividade económica (estagnação), as empresas optam muitas vezes por despedir. É por isso que a subida do desemprego é a componente da estagflação que se manifesta mais tardiamente. Ao mesmo tempo, surge um risco mais elevado de falência das empresas, sobretudo se a inflação atingir de forma mais intensa os bens e serviços do setor em que atuam.

Aumento da pobreza.

A estagflação penaliza todas as classes sociais, mas tem um impacto mais acentuado nas pessoas em situações de carência, sobretudo se a inflação incidir nos bens de primeira necessidade. O aumento da pobreza e o agravamento das desigualdades sociais são características habituais desta fase.

Rendimentos reais negativos

Num cenário de estagflação, os bancos centrais tendem a subir os juros de forma agressiva para combater a subida dos preços. Pode ser uma boa notícia para os aforradores, mas será difícil obter taxas de rendimento de produtos de baixo risco acima da inflação, pelo que os retornos reais negativos são mais prováveis. Quanto aos ativos de maior risco, como ações e obrigações, as perspetivas também não são favoráveis, pois os mercados tendem a desvalorizar em alturas de crescimento económico fraco e inflação elevada.

O que fazer num cenário de estagflação

Num cenário de estagflação, é difícil escapar aos seus efeitos. Contudo, existem diversas medidas a adotar para “limitar os estragos”.

Reforçar a poupança

Independentemente do período económico, os hábitos de poupança devem ser uma regra. Se nos tempos de bonança é possível colocar mais rendimento de parte todos os meses, quando a situação económica se complica é essencial reforçar as rotinas de poupança.

Disciplinar o orçamento

Com o custo de vida a aumentar, é necessário reduzir as despesas. Um orçamento familiar bem desenhado é essencial para identificar os custos a eliminar, bem como o impacto da inflação nas despesas do dia a dia.

Não deixar o dinheiro parado

A inflação elevada diminui o poder de compra e corrói as poupanças, pelo que é uma das maiores inimigas dos aforradores. Mesmo que não se pretenda assumir riscos e seja difícil alcançar retornos reais positivos, é aconselhável procurar aplicações financeiras com uma remuneração atrativa.

Amortizar dívidas

Os bancos centrais respondem à inflação elevada com subidas de juros,  tornando provável o agravamento das prestações do crédito à habitação. É uma boa altura para amortizar parte do empréstimo da casa ou para eliminar outros créditos, sobretudo os que têm um custo mais elevado.

Adiar a mudança de emprego

Com o desemprego em alta e a economia estagnada, é mais difícil encontrar uma proposta atrativa em termos financeiros. A opção mais sensata é preservar o emprego e reforçar competências, preparando a mudança para outro enquadramento económico.

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